Quando o desemprego está em alta e sobe a inflação, falta salário no fim do mês. Sem dinheiro suficiente, quem nem tinha o costume de usar o cartão de crédito, tem aderido à opção. O desafio é conseguir pagar em dia, pois a taxa de juros está em 451,33% ao ano. De acordo com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), é a mais alta desde 1995. A cada R$ 1.000 no cartão, a dívida sobe para R$ 5.510,33 ao fim de 12 meses.

Para fazer o salário render, parcelar também tem sido uma alternativa. De acordo com a economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos, embora a maioria ainda prefira pagar à vista, para aqueles que não têm conseguido, a divisão está salvando o orçamento. “Com base em pesquisas feitas nas vésperas das datas comemorativas, verificamos que, enquanto no ano passado os belo-horizontinos dividiam as compras acima de R$ 500 em até três vezes, neste ano têm parcelado em até cinco vezes”, compara.

Ana Paula ressalta que, com mais gente recorrendo aos cartões de crédito, o risco de estourar o limite é grande e a inadimplência vem já no mês seguinte ao uso. O economista da Serasa Experian Luiz Rabi destaca que, só neste ano, 3,2 milhões de brasileiros engrossaram as estatísticas dos inadimplentes. “Eram 56,4 milhões até junho de 2015. Agora são 59,6 milhões. É a população de uma grande cidade”, ressalta. Belo Horizonte, por exemplo, tem 2,5 milhões de habitantes.

De acordo com Rabi, a solução para quem precisa usar o cartão de crédito é estabelecer limites para pagamentos das prestações. “Não pode passar de 20% da renda. Mas isso é além das despesas correntes como aluguel e alimentação, por exemplo. Para quem usar, a orientação é jamais pagar apenas o rotativo, que é o valor mínimo. É a pior dívida que existe, pois os juros são muito altos e o prazo para pagamento é curtíssimo, de somente 30 dias”, comenta.

“Mas se o consumidor não está conseguindo pagar as contas, a melhor saída é cortar as despesas”, avalia o economista da Serasa.

A técnica-administrativa Adriana Negreiros está recorrendo ao cartão de crédito para conseguir equilibrar as contas, entretanto, ela traçou metas bem definidas e não extrapola o limite. “Se o custo de vida subiu 30%, meu salário não acompanhou. Então cortamos gastos, priorizamos os passeios alternativos com os amigos, como andar de skate e bicicleta. A diversão foi o que mais sofreu cortes”, diz Adriana.

Minas tem maior taxa para crediário

A taxa média de juros para pessoas físicas subiu de 8,09% ao mês em julho para 8,13% em agosto, a maior desde 2003. Considerando só o crediário, que ficou em 5,86% na média nacional, Minas Gerais é o Estado com os juros mais altos, com 5,97% ao mês.

De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, com risco maior de calote, os bancos acabam subindo as taxas para compensar eventuais perdas. “Mas sempre existe a expectativa de que o Banco Central possa vir a reduzir a taxa básica (Selic) e contribuir para a redução dos juros das operações de crédito”, diz. (QA)

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