Antes de pensar em investir em planos de previdência privados, bolsa de valores ou poupança como forma de complementar a aposentadoria, o brasileiro deveria tentar tirar o máximo da Previdência Social. É geral o desconhecimento da população sobre o sistema, que apresenta regras complexas e que sofreram profundas modificações nos últimos 10 anos. A falta de planejamento pode levar a perdas praticamente irreversíveis de mais de R$ 1 mil por mês no benefício ou mais da metade do ganho futuro.
Alguns cuidados podem fazer diferença pelos próximos 25 anos de vida do segurado. São eles: trabalhar por mais alguns anos, aguardar a aprovação do novo fator 95/85 no Congresso Nacional e até ficar parado, sem recolher um centavo a mais ao INSS, deixando apenas contar o tempo. Para se ter uma ideia do que esses cuidados podem representar, se estiver na véspera do aniversário e deixar para se aposentar no dia seguinte, o trabalhador já terá aumentado o valor de seu benefício de 2,5 a 3%.
Aposentar sem se programar pode trazer um arrependimento imediato. É o caso real de um supervisor administrativo, de 49 anos, que deu entrada com os papéis no início do mês no INSS, ao completar 35 anos de contribuição. Em vez de sair feliz com a conquista, entrou em desespero ao ser informado, dias depois, que estava aposentado com R$ 1,34 mil por mês, 42% a menos em relação ao benefício integral de R$ 2,3 mil. %u201CÉ uma pedrada. Fiquei desnorteado, porque sustento diversas pessoas e não tenho outra fonte de recursos%u201D, afirma ele, que prefere ficar no anonimato por já estar sofrendo retaliações no serviço desde que comunicou a decisão de parar de trabalhar.
Cancelamento
O supervisor já pediu o cancelamento ao INSS. O recurso da desaposentação, entretanto, só pode ser usado de forma administrativa dentro de 30 dias. Depois disso, somente nos tribunais. Parece que as pessoas esperam a vida toda por esse momento e, na hora de se aposentar, tomam uma decisão muitas vezes precipitada. Esquecem-se de estudar as regras, afirma Lasaro Cunha, da LCC Advogados Associados.
Segundo ele, os erros prejudicam não apenas os dois terços dos segurados que vão receber salário mínimo e que não podem abrir mão do acréscimo imediato de renda no orçamento familiar.
Não é gente simples. São pessoas mais esclarecidas, que antecipam o processo por desconhecimento ou por medo. Acreditam que é melhor receber algum dinheiro agora do que nada amanhã. Não pensam que essa decisão terá consequências de forma definitiva na sua vida por mais uma década ou duas, e que terá repercussão na pensão deixada para a mulher, que costuma ser mais nova e ainda vai usufruir dessa renda ao lado dos filhos, compara.
Basta dizer que os brasileiros se aposentam atualmente com 53,2 anos de idade, em média, sendo que cerca de 30 milhões deles continuam trabalhando depois de aposentados. Com o aumento da expectativa de vida para 72,6 anos, no caso do homem, e 76 anos, da mulher, em tese daria para segurar a decisão por mais cinco anos. Depois, teria dinheiro no bolso para descansar nos próximos 19,4 anos e 22,8 anos, respectivamente.
O problema é que muitos deixam de avaliar as opções, aposentam de imediato e não largam o emprego antigo. Continuam recolhendo compulsoriamente ao INSS, sem expectativa de reaver esse dinheiro, defende o especialista.

COMPATILHAR: