Não há dúvidas de que a Operação Lava Jato acabou por mostrar aos brasileiros a dura realidade: somos um país (des) governado por um bando de corruptos de todos os matizes e alojados, sem medo de errar, em todos os partidos. Ressalvadas aqui honrosas e raríssimas exceções.

Com as delações premiadas, muitos daqueles já alcançados pelas garras da Polícia Federal, do Ministério Público e do destemido Sérgio Moro; em troca de “benesses legais”, de repente e se sentindo traídos e abandonados pelos que ainda estão de fora das grades, acabam por concordar em devolver parte do que auferiram ilegalmente ao longo de anos em troca das tais delações premiadas. Porém, apesar do minucioso detalhamento das mesmas, por falta de provas “materiais”, muitos dos delatados, ainda assim, acabarão, mesmo que condenados na primeira instância, sendo favorecidos por sentenças mais “amenas”, exaradas pelos tribunais superiores, quando instados a rever as decisões.

O que se tem visto hoje é mais ou menos o seguinte: o figurão que participou de um esquema e surrupiou “zilhões” dos cofres públicos, na condição de delator acaba sendo premiado com a obrigação de devolver ínfima parte do que embolsou. De condenado a dezenas de anos em regime fechado, passa a cumprir pena de alguns poucos anos ou meses no próprio domicílio, mas “castigado” com a obrigação de manter presa ao corpo a tal tornozeleira eletrônica.

Outro dia, num papo animado de esquina, ouvimos de um “honrado cidadão” o seguinte comentário e aqui o registramos para sua análise, leitor: “a esta altura da vida, com aquele montão de dinheiro que o cara tem na Suíça e ainda contando com o carinho e os bons serviços prestados por aquela loura escultural que com ele vive e o ajuda a gastar a grana, eu até que toparia usar pelo resto da vida a tornozeleira, a braçadeira e até uma coleira, se preciso fosse”.  E, pensando bem, não é mesmo que o cara tem certa razão?

Voltando ao foco da questão, lembremos que o fato real é que hoje, com a publicação de uma relação contendo nomes de mais uns trinta e muitos senadores, deputados, governadores e ex-presidentes; todos segundo o delator, aquele figurão que por mais de década dirigiu a Transpetro, envolvidos em corrupção, o país acordou mais perplexo ainda.

Os caras, segundo ele, foram todos beneficiados pelo esquema de extorsão consentida e ajustada entre as partes, a saber: governo ou estatais como contratantes e empreiteiras como contratados, tudo devidamente ajustado para facilitar o desvio de milhões de dólares acobertados pelo manto largo e generoso da “doação lícita” para as suas campanhas e partidos.

Mas, infelizmente, o sentimento geral diante desta notícia é o de que ninguém, nenhum deles, será punido. Por que? Simplesmente porque os indícios revelados deixarão de ter força quando se verificar que não há prova material contra os delatados. Foi tudo doação legal e comunicada ao TSE.

É óbvio que se a doação foi legal, a origem da grana nela usada, foi mais que duvidosa! E todo mundo sabia disso. Menos o Tribunal Eleitoral e seus penduricalhos espalhados pelo país.  E nós brasileiros acreditávamos que aquele órgão existia exatamente para fiscalizar e coibir práticas deste tipo! Hoje, infelizmente, constatamos que durante décadas este aparato de alto custo para o erário, sequer foi capaz de detectar que por detrás das milhares de doações generosas dos empresários, todas a ele declaradas a cada eleição, havia sinais mais que claros da existência de um conluio entre doadores, partidos e candidatos. Será que a generosidade dos empresários doadores, hora alguma foi posta em dúvida? Bando de incompetentes!

E esta prática nefasta, convenhamos, não ocorre só lá na esfera federal. Repete-se também com muita ênfase nos âmbitos estadual e municipal.

A coisa é tão grave, enraizada e lucrativa para alguns que, mesmo passadas as eleições, o que se vê é a prática da facilitação de concorrências (licitações) dirigidas e proliferando diariamente na grande maioria dos munícipios brasileiros.

Quem duvidar disto que acompanhe os processos licitatórios e veja que debaixo da capa de legalidade, disfarçada pela adoção de pregões e outras formas admitidas pela lei, muita água podre ainda passa por debaixo desta ponte. É ela (a ponte) que faz a ligação entre os envolvidos e permite a quitação da troca de “favores” havida no período pré-eleitoral muitas vezes por intermédio de aquisições de bens e serviços superfaturados.

Analisando apenas um dos ramos que se prestam a participar destas falcatruas, citamos o das gráficas, editoras e afins, até então escolhidas para encobrir certas operações mais que duvidosas, ainda que parcialmente. Muitas destas felizmente já acabaram caindo nas garras da Justiça, por terem atuado, comprovadamente, como verdadeiras “lavanderias”.

Dentre outras figurinhas mineiras claramente envolvidas em esquemas desta mesma ordem, citamos aqui Marcos Valério e Bené. Estes já estão lá, atrás das grades. Só que os verdadeiros e grandes beneficiários, seus comparsas, eleitos ou não, na sua grande maioria, ainda estão por aí, “soltinhos da silva” e gozando das mordomias que o “poder” lhes oferece.

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