Passados mais de sete meses desde o rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, a Secretaria Municipal de Saúde constatou um aumento no número de suicídios e tentativas no município, principalmente entre as mulheres. No primeiro semestre deste ano, foram 39 tentativas de suicídio, sendo 11 entre homens e 28 entre mulheres, nove a mais do que no mesmo período do ano passado, uma alta de 23%. Já em relação aos suicídios, o número passou de um, em 2018, para três este ano.
O quadro reflete a deterioração na saúde mental da população, comprovada por alta expressiva nas prescrições de antidepressivos e ansiolíticos (medicamentos para controlar ansiedade e tensão). “São mulheres que perderam filhos e marido. A sensação de perda para elas é maior para ressignificar a vida”, disse o secretário municipal de Saúde de Brumadinho, Junio Araújo Alves. “Essa é uma face do adoecimento mental da população. Estamos trabalhando para evitar um quadro ainda pior.”
Os dados da Prefeitura mostram que o uso de antidepressivos por
pacientes da rede pública de saúde foi, em agosto de 2019, 60% maior que no
mesmo período do ano passado. Em relação aos ansiolíticos, o crescimento é
ainda mais significativo, de 80%, no período.
Além disso, conforme o secretário, o uso de risperidona aumentou 143%. A
droga é utilizada no tratamento de psicoses, agindo contra transtornos relacionados
a pensamento, emoções, ansiedade, distúrbios de percepção e desconfiança.
O trauma psicológico sofrido por moradores de Brumadinho tem paralelo com o
identificado em populações de países acometidos por guerras, destaca o
professor Frederico Garcia, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “As pessoas veem
tanto a sua vida como seu futuro ameaçados de forma abrupta.”
Nesse cenário, cresce o risco de aumento de casos de suicídio, doenças mentais
e uso de drogas e álcool. “É uma situação de sofrimento que pode perdurar
por muitos anos. E não se pode minimizar a perda de cada pessoa, seja de
parentes, perspectivas, trabalho ou sonhos. Todas as perdas podem ter
consequências negativas”, diz.
Somando os registros de todas as especialidades médicas, os atendimentos na
rede primária de saúde de Brumadinho aumentaram 63% no primeiro quadrimestre de
2019, ante o mesmo período de 2018, saltando de 33 mil para 54 mil. A situação
se repete na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Antes do rompimento, o número
máximo de atendimentos em um plantão de 12 horas registrado pela Secretaria de
Saúde foi de 165. Após a lama, o teto de atendimento subiu para 280.
As contas da Prefeitura projetam alta de R$15 milhões em 2019 com gastos no
setor de saúde, chegando no período a R$70 milhões ante R$55 milhões em 2018.
Os recursos para cobrir a diferença sairão de um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) no valor de R$31 milhões, para dois anos, fechado entre a Vale e
a força-tarefa do Ministério Público que trabalha no levantamento dos impactos
da lama na comunidade.
Preste atenção
1. O impacto das tragédias – Em períodos que seguem grandes
tragédias – como uma guerra, um desastre ambiental ou o rompimento de um
barragem, por exemplo, é comum haver aumento de registro de doenças
mentais nas populações afetadas, como casos de depressão, ansiedade e também
suicídio.
2. Sinais de alerta – Depressão causa tristeza profunda e
pessimismo, sentimentos que podem culminar em comportamentos suicidas. Segundo
o Ministério da Saúde, os sinais mais frequentes são irritabilidade, ansiedade,
angústia, desânimo, cansaço fácil, e diminuição ou incapacidade de sentir
alegria.
3. Outros sinais – Há também outros comportamentos que devem ser
observados, de acordo com o Ministério da Saúde: aumento de sentimentos de medo
e baixa autoestima, dificuldade de concentração, perda ou alta do apetite e do
peso, raciocínio mais lento e episódios frequentes de esquecimento.
4. Surgimento de doenças – Pessoas com depressão podem apresentar
baixa no sistema de imunidade, problemas inflamatórios e infecciosos.
Dependendo da gravidade, a depressão também pode desencadear doenças
cardiovasculares, como enfarte, acidente vascular cerebral (AVC) e hipertensão.
5. Prevenção – Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9 em
cada 10 mortes por suicídio podem ser evitadas e a prevenção é fundamental. O
assunto ainda é considerado tabu, e é fundamental que em momentos difíceis as
pessoas consigam pedir ajuda para familiares, amigos ou um médico.
6. Setembro Amarelo – Este mês, o Centro de Valorização da Vida
(CVV) realiza a campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio. O CVV
reúne 3 mil voluntários, que atendem gratuitamente por telefone, chat ou
pessoalmente. Quem precisa de ajuda pode ligar para o 188 a qualquer hora do
dia ou noite.
*Com Estadão Conteúdo.
Fonte: Hoje em Dia ||