Se a ONU reconheceu e estabeleceu mundialmente que no dia 22 de março todos devemos reafirmar a importância vital da conservação e preservação das águas, nós aqui do entorno dos lagos de Furnas e de Peixoto, infelizmente, não temos nada a comemorar nesta data. 

Pelo contrário, achamos que esta é a hora de mais uma vez deixarmos claro nosso descontentamento, repudiando com veemência a falta de zelo e o notório desleixo com que as “autoridades”, em especial aquelas lotadas em vários penduricalhos federais e estaduais, sabe-se lá por quais razões, ainda insistem em favorecer e facilitar as coisas para os “operadores do sistema”. Esta tem sido uma forma estranha de atuação que perpetua os crimes há décadas cometidos contra o povo mineiro, no tocante ao trato de suas águas.

E aqui não escapa ninguém.  ANA – ONS – MME – MDR –  Furnas – IGAM – Ibama – os governos mineiro e federal e tantos outros atores que, na fatia de governança que lhes cabe, se mostram inoperantes na defesa de direitos que lhes cabe proteger, regulando condutas, notificando, multando ou simplesmente suspendendo certas atividades, reconhecidamente predatórias.

As razões que levam certos burocratas a se prenderem apenas em conceitos e normas técnicas deixando de lado o bom senso, que mesmo sendo mais onerosas do ponto de vista econômico, são elas muitas vezes mais eficientes na defesa dos direitos sócio ambientais das populações afetadas. Todos sabemos que a gana capitalista, a gula de acionistas ou a necessidade de se apresentar lucros exorbitantes nos balanços de certas estatais ou mesmo nos de empresas mistas ou privadas é o norte que eles, os burocratas tem como guia. Isto é o que nos explica o comportamento de muitos deles, inclusive os de alta patente e dos asseclas que os assessoram. Com esta forma de agir, estranha e injusta, eles, impunemente há quase uma década, vem manipulando a seu bel prazer, sempre no interesse contrário ao do povo mineiro, a gestão de nossas águas, em especial aqui na extensa bacia do Rio Grande.

Esquecem que ÁGUAS, não são de propriedade privada do capital, ao contrário, são um direito inalienável da humanidade, conforme conceitua a ONU.

Para quem não sabe ou disto não mais se lembra, como certamente ocorre com muitos dentre os acima citados, lembramos que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), reconheceu a água e o saneamento como direitos humanos universais e fundamentais para a garantia da vida e da dignidade humana.

Esta definição que pode até nos parecer óbvia, trás consigo, dentre outros, o significado importante da defesa das populações em áreas que, historicamente, como é o nosso caso, tenham sido prejudicadas quando delas se retirou o direito de usufruírem do multiuso das águas.

Aqui, esta maléfica conduta (opção) causou desemprego, desalento, miséria, prejuízos outros e retirou a única fonte de renda de milhares, sim, de milhares de famílias que dependiam e ainda dependem dos empreendimentos que, ao longo de décadas, por aqui  se instalaram com muito sacrifício e  fizeram ressurgir nas populações atingidas,  a esperança da volta de diversas atividades econômicas em substituição àquelas então existentes e  que, simplesmente foram dizimadas quando se alagaram as nossas terras mais férteis.

É revoltante constatarmos, como ocorreu nestes dois últimos anos, o monte de besteiras que os gestores dos tais “penduricalhos”, de olhos e ouvidos fechados aos apelos do povo mineiro, permitiram que continuassem ocorrendo através da gestão equivocada e predatória de nossas águas. Claramente privilegiaram apenas empreendimentos de outros estados a jusante, garantindo-lhes o multiuso das águas, o mesmo negado aos mineiros.  

Felizmente, de uns tempos para cá, esta barbárie tornou-se pública e a partir da união de grande parte da população que se juntou em grupos através da mídia social, mostrou-se a força de nossa indignação e uma vez manifestada, conseguimos e já obtivemos sim, algumas vitórias nesta luta contra o “inimigo”.   

Dentre estas, a edição da Emenda Constitucional 106, de autoria do deputado Professor Cleiton, aprovada por 99,9% dos deputados estaduais mineiros. A ela, também se juntaram outros políticos na esfera estadual e federal, inclusive senadores e ministros que, mesmo em ritmo, para nós ainda pouco acelerado, tem se movimentado nos acenam com a possibilidade de que um dia, reverteremos a situação, sabe-se lá quando!

Porém, é bom que nossos governantes saibam que aqui neste estado, berço da Inconfidência Mineira, o sentimento do povo, neste quesito, pode ser medido pela união de duzentos ou trezentos mil em torno da mesma ideia, todos prontos para o que der e vier.

O legado pela postura do governador Itamar Franco, no início dos anos 2000, em situação muito similar, volta e meia vem às nossas mentes e nos fortalece nesta busca de uma solução definitiva para o grave problema que nos atormenta em especial a partir de 2012.

Não desistiremos! Ainda que para isto, tenhamos que seguir os passos já traçados por Itamar quando ele mostrou ao Brasil que a força do povo de Minas, se necessário e especialmente quando seus direitos são desrespeitados, é capaz de mesmo que com sacrifícios inimagináveis, defender sua honra.  

Por oportuno, propomos aqui uma medida simples, mas que pode, quem sabe, dar alguns frutos.

 Que tal se todas as Câmaras de Vereadores dos municípios prejudicados pela ação danosa dos tais operadores, instituam por lei, um ou mais dias, a exemplo do que fez a ONU, para que nele ou neles, nos dediquemos todos a mostrar ao mundo os males que nos são impostos pela falta d’água e do desrespeito com que temos sido, sistematicamente, tratados?

Quem sabe se a ONU ao receber um relatório bem detalhado do que aqui ocorre, demonstrando, inclusive, as razões que nos levaram a sermos castigados há mais de década, a partir da adoção deste Dia de Repúdio, esta inciativa não mereça também o apoio deste importante órgão internacional?

Se um ou mais dias, já que o ano tem tantos, for efetivamente lembrado mundialmente por esta conotação estranha, porém mais que justa, talvez tenhamos a chance de através de uma exposição maior, inclusive na grande mídia nacional e internacional, de atrair novos adeptos à nossa luta.  

Fica a sugestão, senhores vereadores e mãos à obra!

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