No mundo o processo de consolidação da democracia é demorado, exige tempo e amadurecimento de suas instituições, inclusive de todos os instrumentos do pleito eleitoral. No geral, quanto mais longeva a democracia mais forte e indispensável ela se torna.
O Brasil sofreu interrupções democráticas, como o Estado Novo, em 1937, e o Golpe Militar, em 1964.
As democracias recentes, ao contrário das longevas, são teoricamente frágeis e têm instituições em construção, por isto têm turbulências e indefinições, os eleitores e os políticos tentam encontrar meios de avançar com os arsenais democráticos existentes, sem causar rupturas.
O Brasil na década de 1970 passou a ter uma distensão e abertura democrática, após ter vivido os anos de chumbo, com marco inicial o Ato Institucional 5 (AI-5), em 1968. O Golpe de 1964, com previsão de ter duração curta, de cerca de dois anos, perdurou por mais de duas décadas e eliminou e exilou da cena política todos os opositores ao regime militar, inclusive políticos que apoiaram inicialmente o golpe, como é o caso de Carlos Lacerda. O final do período de ditadura foi marcado por recessão econômica, alta taxa de inflação, arrocho salarial, falta de apoio interno e internacional ao regime autoritário.
A transição democrática ocorreu de 1975 a 1985. No final, o acordo de transição conciliou interesses do grupo que perdeu a hegemonia e o da oposição, tendo como presidente Tancredo Neves, representante da oposição, e vice José Sarney, um dos líderes políticos no regime autoritário.
Em 15 de março de 1985, José Sarney assumia a Presidência da República e não Tancredo Neves, por ter adoecido antes da posse e morrer logo após, em 21 de abril.
Este primeiro governo da redemocratização foi marcado por disputas políticas internas e a democracia avançou, com a elaboração de uma nova Constituição e a restauração de direitos, como a vedação da censura e da tortura.
O Governo Sarney, de 1985 a 1989, fracassou na tentativa de estabilizar a economia e tivemos momentos difíceis causados pela inflação de três dígitos, moratória na dívida externa, ausência de crédito externo, paralisação dos investimentos, greves dos trabalhadores, etc.
Em 1989 Fernando Collor, detentor de um grande marketing político, foi eleito Presidente da República com bandeiras políticas de ações anticorrupção e anticomunistas, em um ambiente econômico difícil e de falta de esperança. A partir deste pleito, Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT), assumiram a hegemonia das esquerdas.
Em 1992 Collor sofreu Impeachment e o vice, Itamar Franco, assumiu o cargo em meio a uma grande crise econômica. Em 1993 Fernando Henrique Cardoso, passou a responder pelo Ministério da Fazenda e implantou o Plano Real em 1994.
Em 1994 e 1998, FHC venceu, no primeiro turno, as eleições para Presidente da República. No seu segundo mandato, de 1999 a 2002, houve forte desaceleração econômica advinda da desvalorização do real e do apagão de energia em 2001.
Em 2003, Lula assume a Presidência da República e, ao contrário das expectativas, foi o novo fiador da estabilidade, promoveu reformas, reequilibrou as finanças públicas, pagou a dívida externa e respeitou os contratos. Em 2006, mesmo com o escândalo do Mensalão, foi reeleito, e a inflação era de 3,1% ao ano e a economia crescia 4%.
Em 2010 Lula, com o sucesso de seus dois mandatos, elege Dilma Rousseff como sua sucessora e esta é reeleita em 2014. Em 2016, Dilma Rousseff sofre processo de Impeachment, após uma forte oposição política e em meio a uma grande crise econômica. Michel Temer assume a Presidência da República.
O que os analistas não previam é que, dois anos depois, Lula, mesmo preso, ainda deteria forte influência política e os polos mais expressivos na reta final da votação do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 seriam um candidato da extrema esquerda e outro da extrema direita.
O Brasil está inserido em um contexto global de recessão econômica e também de contestação de valores democráticos.
No mundo todo, em virtude da recessão econômica, ainda advinda dos reflexos da crise financeira global (subprime) de 2008, os regimes democráticos têm tido inúmeras dificuldades, pois as pessoas querem desenvolvimento econômico (emprego e renda) e até, de forma inadvertida, abrem mão de valores democráticos.
A verdade é que existe uma relação direta entre bem-estar econômico e o grau de confiança na política e nos representantes políticos. As sociedades se apegam aos valores de bem-estar social e reagem de variadas formas diante do risco de perdê-los ou ao vê-los ameaçados.
A democracia está em crise, principalmente nos países emergentes ou “ex-comunistas”, além disto, temos acirramento em países desenvolvidos, como Trump, nos Estados Unidos, e Marcon, na França, com o ataque ao direito livre de escolher os dirigentes em eleições livres e imparciais, a liberdade de imprensa e o Estado de Direito. Está em recuo o compromisso com normas da democracia liberal, como o direito a votar e a igualdade de direitos para todos os cidadãos.
A dimensão econômica do liberalismo, com a procura de bem-estar, emprego e renda, leva as pessoas para a democracia não-liberal, quer dizer, as pessoas preferem garantir o seu bem-estar e abrem mão de liberdades democráticas históricas, conseguidas com muita luta.
Este é o grande dilema das democracias modernas, manterem vivos os ideais democráticos e conseguirem preservar a qualidade de bem-estar geral das pessoas, sem permitir que parcelas da população se sintam deserdadas.
Neste contexto, o Brasil, em 2018, vive mais um momento de escolha de Presidente da República, com a garantia do sigilo do voto, e de consolidação de sua democracia. A sociedade brasileira fará a escolha do candidato com o objetivo de dirigir a nação e esperamos serem eleitas pessoas dispostas a avançar com todas as nossas conquistas e, assim, garantir os ganhos democráticos, fortalecer as instituições democráticas e melhorar os níveis de bem-estar de todos.

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