Vivemos no Brasil uma crise complexa.

Conceitualmente, crise é um momento de ruptura, não prevista no funcionamento do sistema. Todo o sistema é composto de relações estreitamente coligadas, de tal forma que a mudança num dos componentes gera mudanças em todos os outros componentes. Os agentes sociais e econômicos durante a crise buscam formas de alcançar o equilíbrio.

A atual crise brasileira tem componentes internos e externos. Internamente temos a corrupção e as crises econômica, política e institucional. Externamente temos a crise econômica mundial.

A crise econômica mundial afeta a demanda e os preços das commodities (ferro, petróleo, soja, milho, etc.) e impacta diretamente o Brasil, seja na diminuição do volume de dólares arrecadados com as exportações, na menor arrecadação de impostos e no aumento do déficit fiscal, nas dificuldades financeiras das empresas e também no aumento do desemprego. E as consequências da crise se disseminam pela economia, e todos os demais setores, públicos e privados, passam a ter dificuldades financeiras.

Já a crise política brasileira, causada principalmente pelas operações de apuração de corrupção da Lava-Jato, atinge todos os partidos e muitas empresas brasileiras. Os esquemas de décadas de corrupção são publicizados e também as formas de financiamento das campanhas políticas. Por outro lado, são desnudadas as falcatruas perpetradas por grandes empresas participantes dos esquemas de corrupção.Esta crise é acirrada pelos efeitos da crise econômica brasileira sobre as contas públicas, com déficits fiscais e, por consequência, dificuldades para arcar com os compromissos financeiros de pagamento dos servidores públicos e fornecedores.Por exemplo, os servidores públicos vivem momentos de atrasos nos pagamentos mensais, de parcelamento dos vencimentos e até do 13º salário.

O combate à corrupção, nas diversas operações do Ministério Público e das Polícias Federal e Civil, tem gerado resultados importantes para o fim da impunidade para estes crimes. Temos denúncias contra governadores, prisão temporária de ex-governador, afastamento de prefeitos, prisão de deputados e senadores, prisão de empresários, etc. Estas operações vêm concretizar o que diz o ditado “pau que bate em Chico, bate em Francisco”, repetido pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e mostra bem o quadro atual, em que a justiça brasileira alcança todos, indiferente da classe social e econômica.

Agora, a crise institucional brasileira, acirrada recentemente pela crise entre o Senado Federal e o Supremo Tribunal Federal, quando da negativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, de cumprir liminar do STF determinando o seu afastamento da presidência do Senado. Alegou este interferência do Poder Judiciário no Poder Legislativo e brandiu a bandeira da independência constitucional dos poderes. Este fato mostra as dificuldades da convivência democrática e harmônica das instituições brasileiras. Este descumprimento, por qualquer cidadão brasileiro, causaria de imediato a criminalização da conduta.

Internamente, em meu entender, a principal crise brasileira são os desvios de conduta, como a falta de caráter, de probidade, de honestidade no trato com bens alheios, seja público ou privado. Estes desvios causam corrupção, competição desonesta e práticas anticoncorrenciais das empresas, descrédito e desconfiança dos eleitores nos políticos e nas instituições, desvios de recursos públicos, etc.

O mau exemplo das pessoas ocupantes de altos cargos hierárquicos, seja no âmbito público ou privado, causa assombro e indignação na população, chega até a incentivar o aumento da criminalidade. Assim, os líderes, que deveriam ser exemplo de probidade e honradez a ser seguido, não se comportam desta maneira e são indignos para ocupar estes cargos.

Apesar de tudo precisamos acreditar e repousar o olho em um futuro melhor, fazer da crise atual uma luta constante, com otimismo no futuro, acreditando que após o seu desfecho sairemos melhores e mais fortalecidos.

Mesmo com a crise econômica, política e institucional, caso todos os agentes públicos e privados fossem honrados e não tivessem cometido desvios de conduta, estaríamos unidos para solucionar e minimizar as consequências dos déficits econômicos e fiscais, acreditando no pleno e eficaz funcionamento de todas as instituições, privadas e públicas.

O ideal é a eliminação de todos os agentes indignos de sua função, dos negócios públicos e privados, pois as nossas gloriosas instituições são maiores e devem se eternizar no tempo para prestar serviços à população.

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