Na entrevista concedida semana passada à jornalista Mônica Bergamo, colunista da “Folha de S.Paulo”, depois de demonstrar que já está em campanha, como ocorre com os demais candidatos (e todos, obviamente, estão descumprindo o que a lei estabelece), o ex-presidente Lula disse que vai “brigar até ganhar”. Ele quis dizer que sua candidatura à Presidência da República é para valer. Não há nem nunca houve qualquer discussão sobre candidatura alternativa à dele. “Se eu fizer isso, minha filha, estou dando o fato como consumado”, arrematou.
Não me lembro, leitor, de ter lido, ouvido ou assistido entrevista tão extensa quanto a que Lula concedeu ao matutino paulista. Consumiram-se duas páginas e meia do jornal. A chamada ocupou metade da primeira. Em duas, Lula respondeu a cerca de 40 perguntas. Pouco antes, sua assessoria o advertiu, prejulgando o ânimo da jornalista: “Busca esta entrevista (referindo-se à colunista da “Folha de S.Paulo”) faz anos, cercando amigos e conhecidos do presidente para isso. Ela tentará: interromper, questionar o discurso, apontar contradições, tentar que assuma erros e investir muito em plano B”.
Lula não fugiu às perguntas, mas acabou permitindo a suspeita sobre se está ou não em seu juízo perfeito. Depois de dizer que não vai se matar nem fugir do Brasil, em resposta à pergunta sobre se, após as condenações, e com sua experiência, enxerga um caminho de saída, respondeu: “É muito simplista essa pergunta. Você deveria estar perguntando se eles vão conseguir juntar uma prova de cinco centavos contra mim. Esse é o dilema”. “Mas, presidente”, advertiu a jornalista, “eles já condenaram o senhor”. E Lula retrucou: “Eu não tenho que encontrar saída. O que vocês da imprensa têm que pedir são provas. Vocês não podem retratar ‘ipsis litteris’ a mentira da Polícia Federal”.
“Eu vou dizer uma coisa”, asseverou Lula em dado instante de sua longa entrevista: “Eu só posso confiar no julgamento se ele entrar no mérito. A Justiça não é uma coisa que você dá 24 horas, 24 dias ou 24 meses. Ela tem o tempo necessário para fazer a investigação correta e punir quem está errado. E quem deveria ser punido era o Moro, o MPF, a PF e os três juízes que fizeram a sentença lá. Essas pessoas mereceriam ser exoneradas a bem do serviço público”.
Estas linhas foram escritas e entregues antes do julgamento, pela quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do habeas corpus preventivo (ainda não há ordem de prisão) apresentado àquela Corte pela defesa do ex-presidente. Ela decidirá, leitor, se Lula poderá ou não continuar em liberdade enquanto recorre da sentença.
A expectativa não é favorável ao réu. É pouco provável que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, que fará defesa oral em favor do ex-presidente, tenha sucesso no que vai dizer: segundo ele, a prisão em segunda instância, ainda que autorizada, não é obrigatória – uma afirmação, sem dúvida, procedente.
Negado o habeas corpus pelo STJ, Lula não será preso. A expedição de ordem de prisão só ocorrerá após o julgamento, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), do recurso apresentado pela defesa contra sua condenação. O pedido de sua prisão pelo Ministério Público Federal, após julgados os embargos de declaração, e a quebra do sigilo bancário do presidente Michel Temer agravam, ainda mais, a situação crítica em que se acha o ex-presidente.

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