Em um momento difícil da vida nacional, diante das diversas denúncias de corrupção envolvendo políticos de renome, é preciso relembrar nomes importantes que ajudaram a construir nossa democracia. No caso, Rui Barbosa é o personagem correto a ser lembrado, pois venceu lutas difíceis para fazer sedimentar a nossa República.

O advogado, jornalista, jurista, político, diplomata, ensaísta, orador Rui Barbosa de Oliveira nasceu em 5 de outubro de 1849, em Salvador, na Bahia.

Recém egresso no colégio, em quinze dias sabia ler e conjugar verbos. O professor publicou uma narrativa do fato e informou que, em 30 anos de magistério, ainda não encontrara criança tão inteligente.

Em 1861, aos 11 anos, quando estudava no Ginásio Baiano de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, o mestre declarou ao pai de Rui Barbosa, João Barbosa: “Seu filho nada mais tem a aprender comigo”.

Em julho de 1868 os liberais perderam o poder e, João Barbosa, pai de Rui Barbosa, perdeu a cadeira de deputado. O filho não ficou alheio à sorte do pai, sentiu ferver o sangue, e toda a indiferença diante dos acontecimentos políticos se transformou depressa no vivo desejo de combater e alistar-se na vanguarda dos que se opunham ao golpe vindo do trono. O lutador acordava. Em São Paulo, as manifestações dos estudantes liberais concretizaram-se num banquete ao deputado José Bonifácio, professor de direito, e que protestara contra a usurpação da Coroa. Oradores exaltados investiram contra o Imperador, e Rui pronunciou o seu primeiro discurso.

Em 1870, Rui bacharelou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Após isto, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira na tribuna e na imprensa, tendo como causa inicial a abolição da escravatura.

Em julho de 1870, Rui fez a inauguração de conferências, patrocinadas pela maçonaria, sobre a liberdade religiosa.

Em 1º de outubro de 1878 foi convidado pelo Visconde de Sinimbu para organizar o ministério. Eram os liberais no poder. Rui, sem pedir votos, foi eleito deputado provincial pela Bahia e reeleito deputado geral nas duas eleições seguintes. Preconizou, juntamente com Joaquim Nabuco, a defesa do sistema federativo.

Em 1881 Rui participou da Reforma Eleitoral, com a consagração da eleição direta.

Em 1882 e 1883 Rui promoveu a reforma geral do ensino.

Rui clamava pela reorganização dos partidos, passando a se organizarem “por ideias”. E sua ideia era a federação. Vitoriosa, a Reforma Eleitoral, logo se voltara apaixonado para a emancipação. Decretada a abolição, atirava-se aos braços do federalismo, eleição dos presidentes das províncias, da secularização do ensino e da eleição dos senadores.

Rui lança a bandeira “federação ou revolução”, lançando os militares contra o governo.

Proclamada a República, Rui foi escolhido ministro da Fazenda.

Ele foi relator e redator da futura Constituição da República. Eleito senador pela Bahia à Assembleia Constituinte, seus conselhos prevaleceram nas linhas fundamentais da Carta Constitucional.

Em 23 de outubro de 1891, Floriano, discordando de Deodoro, chefiou uma revolução e Deodoro renuncia.

Rui defendeu a realização de eleições para presidente, mas Floriano resolveu completar o mandato de Deodoro. Militares se insurgiram. As prisões ficaram lotadas, muitos foram deportados, foi decretado o estado de sítio. Rui requereu habeas-corpus em favor dos cidadãos presos pelo governo ditatorial. Como redator-chefe do Jornal do Brasil, abriu campanha contra a situação.

Em junho de 1894, Rui chegou a Londres como emigrado político.

Em 1895, restaurada a ordem no Brasil, Rui Barbosa regressou do exílio. Tomou assento no Senado, no qual se conservaria até à morte, após sucessivas reeleições.

Fundada a Academia Brasileira de Letras, em 1897, Rui assume a cadeira número 10.

Ele foi convidado para ser paraninfo no Colégio Anchieta. Pronunciou belo discurso e, ao referir-se à pátria, assim a definiu: “A pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo. Porque todos os sentimentos grandes são benignos, e residem originariamente no amor”.

Em 1907 Rui Barbosa foi designado representante do Brasil na 2ª. Conferência da Paz, em Haia. Em virtude de seu discurso defendendo os direitos dos pequenos países e propondo a igualdade entre todas as nações, ganhou o epíteto de “Águia de Haia”.

Capistrano de Abreu traçou o perfil de Rui Barbosa. “É simples, bem educado, não gosta de conversa comprida. Acorda cedo, às quatro horas. Às dez horas da noite adormece. Não fuma, não bebe. Sua biblioteca anda por algumas dezenas de milhares de volumes e, em certas prateleiras, há três carreiras de livros. Seu vocabulário é ilimitado. Sua dialética é feroz. Gosta de elogios e os recebe com modéstia. É um bom chefe de família”.

Em 1921 escreveu a “Oração aos moços”, discurso aos bacharéis diplomados pela Faculdade de Direito. A saúde não lhe permitiu comparecer à solenidade, sendo este discurso lido pelo professor Reinaldo Porchat. Nesse exame de consciência, Rui voltara-se sem ódio para os seus inimigos. E, olhando para a própria alma, não se esquecera de dizer aos seus jovens colegas: “Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade”.

Em agosto de 1922, Rui adoeceu gravemente, com edema pulmonar. Depois de vários dias reagiu. Os médicos proibiram qualquer esforço. Entretanto, no dia 27 de fevereiro de1923 Rui piorou, com diagnóstico de paralisia bulbar, vindo a falecer no dia 1º de março de 1923, em Petrópolis-RJ.

Rui escreveu diversas frases e discursos que ficaram famosos. Entre elas, cito duas, as quais considero dignas da complexidade, da profundidade de seu pensamento e que permanecem atuais: Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!”. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

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