O Tempo

Diante da confusão instalada no plenário e para ganhar tempo para chegar a um consenso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu nessa quinta-feira (24) adiar a votação do pacote das medidas contra a corrupção para a próxima semana. Maia afirmou que vai continuar se reunindo com líderes da Casa para estudar o texto até a próxima terça-feira e que, somente depois disso, a matéria será levada novamente ao plenário.

Ao anunciar a decisão, o presidente da Câmara mandou recados ao Ministério Público Federal (MPF) e disse que os deputados têm independência para aprovar ou rejeitar qualquer texto. “Ninguém pode se sentir ofendido por uma decisão onde o plenário da Câmara é soberano”, afirmou ele, que passou a madrugada articulando com os colegas uma forma de incluir no texto que seria levado ao plenário a anistia a acusados de crime de caixa 2.

Deputados e senadores correm contra o tempo para que as alterações na lei sejam aprovadas antes que a delação premiada de executivos da Odebrecht, considerada o divisor de águas na Lava Jato, faça as primeiras vítimas no Congresso.

Rodrigo Maia também afirmou que não haverá anistia à prática de caixa 2 e que isso é algo que tem sido usado para denegrir a imagem do Congresso. “Vamos acabar com essa história de anistia, não é anistia de um crime que não existe. Isso é um jogo de palavras para desmoralizar e enfraquecer o Parlamento”, declarou o democrata.

A polêmica surgiu após a confirmação de um plano traçado pelos deputados junto com o presidente da Câmara para aprovar um novo texto de medidas anticorrupção com direito à anistia para quem cometeu crime de caixa 2. A grande preocupação entre os deputados é votar um texto que seja mais favorável à classe política.

Existe um acordo para que o texto, assim que for aprovado, siga, “de imediato”, para ser apreciado no Senado, para, em seguida, ser sancionado, sem vetos, pelo presidente Michel Temer, havendo ou não previsão de anistia (leia mais na página 6). Entre membros da força-tarefa da Lava Jato, a ameaça de blindagem de políticos investigados por corrupção gerou uma forte mobilização nessa quinta-feira (24) à tarde. A preocupação aumentou principalmente depois que a Câmara aprovou, por 312 votos a 65, a votação em caráter de urgência. Originalmente, o pacote de medidas anticorrupção foi criado pela força-tarefa da Lava Jato, com o respaldo de 2 milhões de assinaturas, mas ao chegar às mãos dos parlamentares, sofreu as alterações.

Salvação. A avaliação do procurador regional da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba Carlos Fernando dos Santos Lima é que a articulação do Congresso para anistiar o caixa 2 é uma tentativa, na verdade, de conseguir um perdão para os crimes de corrupção.

“Temos talvez uma grande colaboração a ser celebrada esta semana. Não é à toa que o Congresso Nacional está em polvorosa. Há muitos necessitados de salvação entre deputados e senadores e são eles que estão agora abandonando todo o pudor, lutando pela sua sobrevivência”, disse Carlos Fernando num evento em Brasília.

Em discurso duro, ele criticou a repatriação de recursos e a reação do Congresso que tenta alterar o pacote das medidas contra a corrupção. Segundo ele, hoje (essa quinta-feira, 24) “não é dia de luva de pelica, é dia de luva de boxe”, para conseguir aprovar as medidas na sua essência. “A ideia de se anistiar caixa 2 é falsa. O que se pretende é anistiar corrupção. (…) O que está se pensando no Congresso é uma anistia aos que em troca de contratos públicos receberam valores. Isso não é crime de caixa 2. Isso é corrupção”, disse.

De acordo com o procurador, presos da Lava Jato e do mensalão deverão sair da cadeia se a anistia for aprovada.

Derrubada

Receio. Em conversas reservadas, ministros do Tribunal Superior Eleitoral condenaram a anistia ao caixa 2. Um chegou a dizer que o Supremo deveria derrubar a anistia, caso ela seja aprovada.

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