Da Redação – Lorene Pedrosa

Durante 90 dias, o agente penitenciário de Formiga, Talles Silva Ribeiro, de 33 anos, compôs a Força Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP) que atuou no Pará após o confronto entre facções criminosas no Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRALT), no sudoeste do estado, no dia 29 de julho, que resultou na morte de 58 detentos, e de outros quatro durante a transferência de presos, dois dias após o massacre.

O servidor público que atua na Penitenciária Regional de Formiga, há mais de 12 anos, foi o único agente da região a participar da intervenção e um dos 10 do estado de Minas. Para compor a equipe nacional, em 2017 ele passou pelo curso de formação do Grupo de Intervenção Rápida (GIR), indispensável para integrar a FTIP.

O embarque para o Pará ocorreu no dia 7 de agosto. Como a intervenção federal na Penitenciária onde ocorreu o massacre foi imediata, coube à equipe de Talles atuar em outras unidades do complexo prisional de Santa Isabel e ainda participar do treinamento dos 642 agentes penitenciários classificados no último concurso da Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe) e chamados de forma urgente pelo governo paraense.

Durante o primeiro mês de intervenção no complexo, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, foram apreendidos 340 celulares, 615 chips, 110 estoques/facas/facões além de bebidas e drogas. Apenas a equipe de Talles apreendeu 12 armas de fogo e grande quantidade de munições. Ao todo, agentes de 22 estados compuseram a força tarefa.

Materiais apreendidos durante a intervenção – Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista ao Nova Imprensa, o agente penitenciário contou que apesar de ter sido preparado para as condições em que encontrariam as unidades prisionais, foi impossível não ficar alarmado. “Em algumas unidades, mais de mil presos viviam soltos, sem celas, morando em barracos improvisados. Intervir nesse ambiente sem lei é extremamente estressante. Mas esse foi o foco da nossa ação, restabelecer o controle. Essas áreas abertas foram desativadas, as estruturas de abrigo dos presos foram derrubadas, nós mesmos ajudamos nos reparos de parte da estrutura e o encarceramento foi retomado”, explicou Talles em entrevista.

Como o acordo entre o governo federal e o estado de Minas previa que os agentes permanecessem na intervenção por 90 dias, ao fim do prazo estipulado todos os profissionais mineiros retornaram, chegando a Minas no domingo passado (27). Porém, por decisão do Ministério da Justiça, a intervenção no Pará permanecerá por mais 90 dias.

“Profissionalmente e como ser humano foi uma experiência incrível. Não é fácil lidar com o risco iminente e com a tensão contínua que são naturais em ações como essa. Ainda mais estando longe da minha esposa e da minha filha, que foi a parte mais difícil. Mas em meio a esse desafio conheci pessoas incríveis e aprendi muito”, comentou Talles, que não pretende participar de novas intervenções no Pará, mas estaria a postos para experiências em outros estados.

COMPATILHAR: