Junho foi um mês marcado por más notícias que afetarão os negócios agropecuários do Brasil em futuro próximo e que o governo Bolsonaro e seus ministros do Meio-Ambiente e de Relações Exteriores não conseguem enxergar. Para piorar, o ministro Salles é mostrado nas gravações da reunião ministerial aconselhando o presidente a aproveitar- se da morte de brasileiros pela Covid-19, uma vez que esse tema distrairia a imprensa. Lamentável!

Não foi surpresa que um grupo de 29 fundos de investimentos quer discutir com o governo brasileiro o aumento da devastação na floresta amazônica. E estes fundos somam US$ 4,1 trilhões (para saber o que esse valor significa, é mais do dobro do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado, que foi de US$ 1,8 trilhão.

Esse descontentamento começou no ano passado, depois que o aumento da devastação culminou na demissão do diretor do INPE, o físico Ricardo Galvão. Além da chuva de “fake news” que só engana os fãs do presidente.

O Mapbiomas, uma iniciativa de dezenas de universidades, ONG e empresas de tecnologia, analisou todos os alertas de desmatamento gerados por vários satélites. O desmatamento atingiu todos os biomas do país, sendo o Cerrado e a Amazônia os mais atingidos. Do total, 11%, foi registrado em unidades de conservação e quase 6% em terras indígenas. E mais, 99% de todo o desmatamento que aconteceu no Brasil não tinha autorização ou estava em áreas que jamais poderiam ser desmatadas.

O cientista Carlos Nobre alerta que o desmatamento na Amazônia em lugares acima da linha do Equador, como Colômbia, Venezuela e Estado de Roraima, tende a acontecer nos meses de dezembro a março, época de seca do hemisfério norte. Ao sul da linha do Equador, a maior parte da Amazônia brasileira, o desmatamento ocorre mais durante a estação seca que acontece em julho e vai até o começo de outubro.

Os destruidores de nossa rica flora cortam a floresta antes do período seco, esperam a floresta secar por uns dois meses, pois está tudo tão úmido que não pega fogo. E aí se abre o espaço para, quando começar a estação chuvosa, plantar grama para fazer a pastagem e, no começo do ano seguinte, trazer o gado.

O cientista lembra que o Exército chegou na primeira semana de maio, com milhares de homens, e não teve sucesso uma vez que o desmatamento de maio foi maior que o de maio de 2019.

O investimento na expansão agrícola e pecuária na Amazônia é um erro como já demonstraram os cientistas Ismael Nobre e Carlos Nobre, que escreveram um artigo para a Revista Futuribles, em que apresentam uma análise do que já foi feito na floresta e uma proposta de iniciativa, chamada de Projeto Amazônia 4.0, uma proposta que recusa a vocação do Brasil ser apenas uma potência agromineral, fornecedora de “commodities” para as nações industrializadas e pós-industrializadas (ver no meu blog).

Senadores e deputados federais e estaduais deveriam eleger como prioridade esta pauta também, enquanto há tempo, porque logo os consumidores europeus, norte-americanos e até chineses boicotarão nossos produtos.

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