Repercutirá ainda por muito tempo a carta que, há poucos dias, o ex-ministro Antonio Palocci Filho endereçou à presidente do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Hoffmann. Uma carta, diga-se logo, escrita por quem deseja ser delator. Palocci foi fundador do PT. Não obstante, sua carta traduz, com alta fidelidade, quase tudo que pensam – e quase nunca expressam – não só os que não aprovam as práticas do partido, mas também aqueles que apenas se identificaram com suas ideias e, antes destes, os ex-petistas. Estes são os que mais sofrem quando constatam os descaminhos tomados pelo ex-presidente Lula, seu dirigente máximo.

Quem, por exemplo, entre esses aos quais me refiro acima, ao longo desses tenebrosos últimos meses, não se fez, inúmeras vezes, estas duas perguntas, agora constantes da carta do ex-ministro Antonio Palocci: “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!!) são atribuídos a dona Marisa? Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por pretensa divindade?”.

E quem não gostaria de ouvir – do PT ou de qualquer partido envolvido na operação Lava Jato –, por meio de seus principais dirigentes, que, finalmente, para todos eles, chegou a hora de dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade? Só ela terá o condão de dar início a um novo tempo, bom não só para políticos, mas para os próprios brasileiros que, quando pesquisados, respondem que seriam capazes de adotar as mesmas práticas adotadas pelos políticos.

A meu ver, leitor, a grande contribuição de Palocci está na sugestão que fez há um ano ao ex-presidente Lula, e que, agora, a ela se refere em sua carta – a de apoiar o acordo de leniência do PT. Este, aliás, deveria ser o comportamento do PSDB, do PMDB e de quase todos os partidos políticos que usaram dos mesmos meios para disputar (e ganhar) eleições. Era esse o paradigma que mandou em todas as eleições ocorridas nesses últimos anos. O caixa 2, que não era crime (e hoje é), tornou-se instituição. Ultrapassou os limites e facilitou o avanço da corrupção. Esse acordo seria proveitoso ao país, aos partidos, mas, sobretudo, aos políticos. Permitiria a separação do joio do trigo, mencionado por Rodrigo Janot, infelizmente, no apagar das luzes de seu segundo período como procurador geral da República.

Essa fila enorme de partidos e políticos que devem satisfação à ética e à Justiça, mas, principalmente, ao povo, atingido irremediavelmente em sua medula óssea, ficaria ainda muito melhor se contasse com o apoio do presidente Michel Temer e de alguns de seus ministros mais próximos. Todos eles, além do presidente e dos ministros, foram dirigentes partidários durante anos. Sabem como se processavam as eleições. Ou talvez esteja eu, como diria um ministro do STF, apenas “poetando”? Mas poetar não seria o que há de melhor nas pessoas?

Provavelmente, o que os impede (partidos e políticos) de fazer o que propôs Antonio Palocci Filho, ainda agora, e depois de tanta lambança, talvez seja a arrogância com que sempre agiram como gestores públicos, na certeza de que jamais seriam alcançados. A impunidade, para todos eles, era o selo que os distinguia do resto dos mortais. Era a garantia suprema de que sempre estiveram acima da lei.

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