A estiagem prolongada tem castigado os produtores rurais, e os efeitos do baixo volume dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste já chegam ao bolso do consumidor. Segundo os especialistas, a seca não deixa dúvidas e terá impactos diretos na inflação. E a alta não será só na energia, que a partir deste mês terá bandeira vermelha em todo o país, com R$ 4,17 para cada 100 kWh consumidos. Carne, hortifrutigranjeiros e etanol também devem ficar mais caros.

Com pouca chuva desde o ano passado, as plantas se desenvolveram menos, e a produtividade caiu na safra de verão, que tem colheita prevista para acontecer até abril. Além disso, a estiagem atrasou o cultivo para a safra de inverno.

Segundo a gerente da Gerência Técnica do Sistema Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, a seca já resultou em uma menor safra de café.

“Isso fez com que se atrasasse o plantio e comprometeu o desenvolvimento das lavouras. Tudo isso atrasa a produção, além de que o déficit hídrico compromete também a irrigação”, diz ela. “Na questão das carnes e nas proteínas, por exemplo, temos o aumento do custo da produção, que é impactado também pela alta do preço da soja e do milho”, explica a economista.

No caso do etanol, o combustível teve aumento de 8% nas últimas semanas. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de 9 a 15 de maio, o combustível foi comercializado, em média, a R$ 4,35, enquanto, na semana anterior, a venda do produto foi de R$ 4,03.

Para o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, a tendência é de queda no valor nas próximas semana. Mas, segundo ele, a previsão é que os preços sigam elevados.

“Tivemos um atraso na produção, agora a safra já começou a engrenar, e estamos percebendo redução do preço do produtor, então isso será repassado ao consumidor. Mas, quando chegar no final da safra, a tendência é que aumente novamente. Estamos falando de uma safra em volume menor por conta da estiagem”, avalia Campos, que destaca os impactos ocorridos no volume da produção.

A previsão é que sejam colhidos cerca de 65,5 milhões de toneladas de cana neste ano, após um recorde de 70,8 milhões de toneladas em 2020 por conta da estiagem. “Esperávamos uma safra maior, aumentamos a área de cana em 2%, iríamos produzir mais, mas a seca fez a produção cair”, pontua.

Inflação 

O Ministério da Economia aumentou nesta semana a previsão do IPCA, o índice oficial da inflação. A expectativa passou de 4,42% para 5,05% em 2021.

Efeitos devem durar a longo prazo 

Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) Matheus Peçanha, a expectativa é que os impactos da seca na alta dos preços continue em longo prazo. Com a falta de chuvas em todo o país, a tendência é que o plantio continue atrasando, dificultando a produção.

“A estiagem tem impactado vários produtos em diferentes etapas. Na questão dos produtos in natura, os efeitos são mais imediatos, mas esse impacto pode se alargar com o tempo, como no caso do preço do etanol e da carne, que você tem um ciclo de maturação de dois anos, então os efeitos da seca ficam por mais de um ano”, destaca.

A seca, segundo o meteorologista Claudemir de Azevedo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), tem explicação: 2020 foi um ano atípico. E as consequências da falta de chuva prometem intensificar o período de estiagem.

“As frentes frias não atingiram com muita intensidade o Sudeste do Brasil, então acabou não chovendo muito no verão. A tendência é que, com o baixo valor na média de chuvas que ocorreu, o período de estiagem possa se agravar”, explica. 

Fonte: O Tempo

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