O grande poeta da língua portuguesa Fernando Pessoa tinha, ao ir fazer desaparecer, 47 anos:  ele nasceu em Lisboa, em 13 de junho de 1888 e completaria 133 anos neste aniversário, se vivo fosse. Deixava uma grande obra em prosa e verso.

Para construir seu singular e complexo universo poético, Fernando Pessoa parte do fingimento e da associação entre o pensar e o sentir, exprimindo-os em versos logo tornados verdadeiros hinos: “O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.”

Os heterônimos – personagens imaginários, dotados de estilos diferentes, através dos quais o “poeta fingidor” passou a se expressar literariamente – podem ter nascido na Cervejaria Jansen, pelo menos parte deles, pois foram mais de cem. Na mesma casa e época, Fernando Pessoa concebeu a revista Orfeu, em parceria com Mário de Sá-Carneiro, outro poeta português. Ambas as criações teriam nascido entre garfadas do famoso bife da casa.

Fernando Pessoa escreveu em seu nome e no dos heterônimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, além de outros cerca de cento e trinta. O sentido dessas despersonalizações provoca debates. Em todo o caso, era um fingimento prodigioso. No exemplar verbete que a Enciclopédia Mirador Internacional dedica a Fernando Pessoa, Caeiro é apresentado como “poeta das sensações puras, naturalista e cético, hostil às regras métricas”; Reis, como “pagão e estóico, neoclássico que escreve odes horacianas e construção elíptica (…), sustenta a convicção de que o único caminho a se tomar na vida é o de afrontar a sorte com o silêncio”; Campos “cultiva a audácia e a energia, mas contraditoriamente faz a apologia do anti-heroísmo”.

Pessoa era um sujeito alto e franzino, tinha pernas longas e o tórax pouco desenvolvido, embora praticasse ginástica sueca. Possuía o rosto comprido e as mãos delgadas. Caminhava em passos rápidos e desconjuntados. Vestia ternos cinzentos, pretos ou azuis. Usava chapéu inclinado para o lado direito. Os óculos eram redondos, com lentes grossas, que corrigiam a miopia e escondiam um pouco os inexpressivos olhos castanhos. Fumava demais, cerca de 80 cigarros por dia, e adquirira o característico pigarrear dos tabagistas. Tomava diariamente vários cafés e diversos tragos de bagaço, nome popular da bagaceira, aguardente feita com o bagaço da uva que acabou de ser usada para o vinho.

É raro um país e uma língua adquirirem quatro grandes poetas em um dia. Foi precisamente o que ocorreu em Lisboa a 8 de março de 1914. Pessoa é um dos maiores poetas da língua portuguesa, senão o maior. Parabéns, meu imenso poeta. Faça muita poesia no céu.

Quando passo na frente da A Brasileira, em Lisboa, e vejo o poeta sentado lá, tão solitário, apesar de tanta gente em volta, me dá uma vontade danada de ir lá conversar com ele. E já fiz isso. Já fomos vizinhos, morei pertinho, quase ao lado, e passava sempre por lá. De repente, volto a morar na região.

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