Os antidepressivos estão alcançando um público cada vez mais jovem. Anteriormente voltados para adultos com depressão, os medicamentos foram reformulados, acumularam menos efeitos colaterais e começaram a ser indicados para jovens e até para crianças. Ao que parece, a correria cotidiana retirou as pessoas com problemas emocionais dos divãs e as levou para as farmácias. ?Perder? quase uma hora em uma sessão de terapia é algo fora de cogitação para algumas pessoas – e isso inclui os jovens. Cada vez mais envolvidos com atividades no dia a dia, eles alegam falta de tempo para práticas mais ?paliativas?, como dedicar meses à análise ou à tentativa de resolver males sem precisar de remédios ou ansiolíticos (para a ansiedade). A ?geração Prozac?, termo que faz referência a um dos medicamentos mais usados para o tratamento da depressão, está cada vez mais distante dos analistas e mais próxima dos psiquiatras.
Terapia
Depressão, ansiedade, insônia e outras patologias ou distúrbios podem e devem, dependendo de cada caso, ser acompanhados por um terapeuta. De acordo com a psicóloga de análise do comportamento Vivian Marchezini Cunha, o primeiro passo diante de situações incômodas, como as citadas, deve ser a procura por uma terapia. É na terapia, inclusive, que o psicólogo avaliará a necessidade de que o paciente procure outro tratamento.
?Casos em que o paciente está na terapia há algum tempo, tentando trabalhar suas questões e apresenta sintomas muito intensos e excessivos, como pensamento de morte ou não traz os resultados esperados é o momento de verificar a necessidade de uma medicação com um psiquiatra?, afirma.
Para Alessandro, no entanto, a terapia nunca teve o efeito desejado. ?Terapia e análise nunca funcionaram para mim, pelo contrário, foram grandes fontes de frustração. Atividades, de qualquer tipo, parecem agravar o quadro de ansiedade, também, já que qualquer emoção ou exercício físico intenso libera adrenalina em excesso devido ao meu problema?, explica.
Remedinho mágico
A motivação para a busca de um tratamento medicamentoso deve ser, portanto, recomendada por motivos sólidos – e não por desafios cotidianos ou insatisfações comuns à vida em sociedade. A medicação é vendida como solução dos problemas e a sociedade é atraída a ela. Todo mundo toma o tal ´remedinho´?, afirma Vivian Marchezini Cunha.
Ela explica que há diferentes perfis de pacientes, alguns deles resistentes a utilizar remédios e outros mais abertos e vêem na medicação uma via mais fácil para resolução dos problemas. Segundo ela, esses últimos tendem a acreditar que só a medicação vai resolver desafios e dificuldades.
Depressão precisa de remédio
O psiquiatra Sandro Luís Silva explica que a inserção de medicação é essencial em casos em que o quadro de depressão maior é diagnosticado. A depressão maior, segundo ele, é uma doença que causa distúrbios em neurotransmissores, como a serotonina, responsável pela regulação do humor, sono e apetite.
Na prática, a pessoa torna-se, em geral, mal humorada, desanimada e sem prazer para realizar atividades que outrora gostava de fazer. Além disso, geralmente surge a perda do sono e de peso. ?Não há dúvidas pela experiência clínica de que, uma vez diagnosticada a depressão maior, é necessário começar um tratamento com antidepressivos?, afirma.
O problema, porém, é quando a pessoa sofre por problemas ?menores?, com assuntos relacionados ao trabalho, às finanças ou à vida conjugal e decide, sozinha, tomar um antidepressivo. ?Em geral, uma pessoa assim, com essas características, não precisa tomar um remédio. Mas ela faz a automedicação, com remédios calmantes. Esses remédios, quando não tomados com critérios, podem causar a dependência química?, explica. Nesses casos, Luís Silva explica que a pessoa começa a mascarar problemas ao invés de, efetivamente, solucioná-los.

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