Pesquisadores de todo o Brasil estão apreensivos com o apagão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência federal ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pelo fomento à pesquisa no Brasil. O problema nos servidores de dados do órgão atinge pesquisadores de todas as universidades públicas e privadas do país. Pelo quarto dia consecutivo, o site da agência está fora do ar.

Uma das grandes preocupações se relaciona à plataforma Lattes, que reúne o currículo de cientistas brasileiros e também é o repositório de informações sobre a produção científica em todas as áreas do conhecimento. A plataforma contêm o Currículo Lattes, Diretório de Grupos de Pesquisa, Diretório de Instituições e Extrator Lattes. O apagão também repercutiu no mundo político e gerou muitas críticas de políticos de oposição ao governo Bolsonaro.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram consultados para se entender a extensão do problema. “Depende do tempo que ficar fora dor ar, pode haver prejuizo. Todos os julgamentos de mérito do CNPq se baseiam no Lattes como um dos elementos principais”, afirma um dos cientistas.
Outro pesquisador explica que a liberação de recursos financeiros pela agência avalia os projetos a partir dos currículos Lattes dos envolvidos na proposta. “O Lattes não é o pior. A plataforma de envio e controle de projetos (chama-se Plataforma Carlos Chagas) também está fora do ar. E esta afeta a capacidade dos pesquisadores gerirem seus projetos no contexto do CNPq”, lamenta.
Em nota emitida na tarde dessa terça-feira (27) o CNPq informou que o problema foi identificado e os procedimentos para a recuperação iniciados. Os prazos para ações de formento à ciência e prestação de contas foram suspensos.

A nota diz o seguinte: “Esclarecemos que o problema que causou a indisponibilidade dos sistemas já foi diagnosticado em parceria com empresas contratadas e os procedimentos para sua reparação foram iniciados; o pagamento das bolsas implementadas não será afetado; todos os prazos de ações relacionadas ao fomento do CNPq, incluindo a prestação de contas, estão suspensos e, de ofício, serão prorrogados; os comunicados oficiais do CNPq são feitos exclusivamente por meio dos canais oficiais na internet: site e redes sociais.”
A nota diz também que o CNPq já dispõe de novos equipamentos de tecnologia da informação. E que a migração dos dados foi iniciada antes da pane. ”Independentemente dessa migração, existem backups cujos conteúdos estão apoiando o restabelecimento dos sistemas; para demais dúvidas, entre em contato com a Central de Atendimento pelo telefone (61) 3211 4000 ou pelo e-mail cnpq@mctic,gov.br. Reforçamos que o CNPq/MCTI estão comprometidos com a restauração do acesso aos sistemas operacionais com a maior brevidade possível”, conclui.
Desde 24 de junho, pesquisadores brasileiros estão acusando dificuldades para acessar o currículo Lattes e vários sistemas de informática do CNPq. Nas redes sociais, eles usam  o termo “apagão do CNPq” para se manifestar sobre a situação e contar como o trabalho deles está sendo prejudicado.

O neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou, pelo Twitter, que o apagão é “uma metáfora cruel para o que vive toda a comunidade científica brasileira diante de um governo que não acredita em ciência”.
A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) associou o apagão ao contingenciamento de gastos que o órgão vem sofrendo. Segundo a entidade, o CNPq tem o menor orçamento da sua história recente, com apenas 26 milhões para investir em fomento.

O Sindicato Nacional dos Gestores Públicos na área de Ciência e Tecnologia (SindGCT) também emitiu nota em que lembra a falta de investimentos na instituição.

“O SindGCT acompanha com preocupação a situação do CNPq. Acreditamos que tal problema não é conjuntural, isolado e fortuito. Trata-se do resultado do descaso e desmonte que o CNPq vem sendo submetido desde o governo Temer e que se aprofundou agora no governo Bolsonaro”.
Ainda segundo a entidade, “a falta de recursos não tem atingido apenas os orçamentos para financiamento de bolsas e projetos de pesquisa, tle tem prejudicado enormemente a infraestrutura do CNPq e de seu quadro de pessoal”. Nesse sentido, “os sistemas, por falta de investimentos, atualização e de visão estratégica dos dirigentes tem se tornado um verdadeiro gargalo para a realização das ações do órgão”, disse, em nota.

Críticas

Políticos de oposição ao governo Bolsonaro acusaram a falta de investimento oficial na área de pesquisa. “Inacreditável. A informação de que milhares de dados acadêmicos desapareceram do CNPq é mais uma manifestação de desprezo do governo Bolsonaro pela ciência”, afirmou o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) pelas redes sociais.
“O apagão no CNPq é mais uma consequência da guerra de Bolsonaro contra a produção científica brasileira. O orçamento do órgão par 2021 é o menor dos ultimos 20 anos. Quando o Brasil mais precisa da ciência, bolsas e pesquisas estão paralisadas. É um projeto de destruição nacional”, escreveu o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ).

A deputada federal Tabata Amaral (sem partido-SP), também avaliou o problema: “O servidor do CNPQ, responsável por armazenar dados de pesquisas no país queimou e agora está fora do ar. O governo vem cortando o orçamento do CNPq, que impacta a produção de pesquisa e ciência, mas também a própria operação do órgão. A incompetência desse governo não tem fim”.
Em 5 de maio, o Senado fez sessão especial para comemorar os 70 anos do CNPq. O autor do requerimento para a homenagem foi o senador Izalci Lucas (PSDB-DF). “‘O CNPq é responsável pelo maior banco de currículos da América Latina, a Plataforma Lattes, criada em 1999, com mais de 7 milhões de currículos cadastrados, mantém fomento a cerca de 80 mil bolsistas anuais, em todas as áreas do conhecimento, bem como institutos nacionais de ciência e tecnologia e grandes programas que propiciam o investimento de longo prazo em pesquisas científicas com impacto e reconhecimento internacionais”, destacou Izalci na época. 

Fonte: Estado de Minas

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