Uma semana após nove pessoas serem mortas durante ação policial em Paraisópolis, o baile funk da DZ7 voltou a ocupar as ruas da comunidade na Zona Sul de São Paulo na noite desse sábado (7) e madrugada de domingo (8). O evento teve a presença de religiosos, público reduzido e homenagem às vítimas.
Caixas de som foram desligadas por um minuto durante a festa e comerciantes que trabalhavam no local usavam camisetas grafadas “Paraisópolis pede paz. Luto”. Nas costas da roupa, o desenho de um anjo.
Segundo relatos ouvidos pelo portal G1, o baile começou por volta das 22h30 e terminou após as 6h.

André Pereira, integrante da pastoral da moradia da Igreja Católica, disse que participou do evento até as 3h. Ele conta que a redução de público era inquestionável. No local, chegou a ouvir de organizadores uma estimativa de 2 mil pessoas.

“Senti muito mais vazio, muito menos movimento. As pessoas estavam mais cautas, olhavam de lado. Falando com todo mundo, acharam que tinha umas duas mil pessoas no máximo.”

Na madrugada do dia 1°, quando o motim policial desmobilizou o baile provocando o tumulto, nove mortes e 12 feridos, o número de presentes estimado era de 5 mil pessoas.

Grafite feito na viela onde 9 morreram — Foto: Bruna Vieira/TV Globo

Grafite feito em muro de Paraisópolis — Foto: Arquivo Pessoal

Camiseta usada para homenagear vítimas de ação da PM que deixou nove pessoas mortas no dia 1° — Foto: Arquivo Pessoal

Ainda de acordo com Pereira, a presença de policiais segue constante na região, principalmente nos acessos à comunidade. “Tinha bloqueio nas entradas, quando sai passei por dois bloqueios, mas estava menos intenso que na sexta-feira”, compara.

Na sexta-feira (6), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que a Polícia Militar realizaria ações neste fim de semana no baile funk de Paraisópolis e de outras comunidades da cidade.
Consultado pelo G1, o advogado Ariel de Castro Alves, integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), afirmou que não recebeu relatos de abusos da polícia, o contrário do relatado por jovens sobre o comportamento da PM em bailes.

Em nota neste domingo (8), a Secretaria da Segurança Pública informou que “a Polícia Militar realiza regularmente ações preventivas e ostensivas de policiamento em pontos estratégicos, que são mapeados pela instituição. Neste final de semana, esse trabalho é realizado em diferentes áreas, incluindo a região de Paraisópolis. As ações têm como objetivo garantir o direito de ir e vir dos cidadãos, além de reforçar a segurança e combater a criminalidade. Sempre que necessário, as aeronaves são utilizadas no apoio às ações de policiamento.”

Padre Luciano Borges, pastor Igor e André Pereira, membro da Pastoral de Moradia da Igreja Católica participaram do baile — Foto: Arquivo Pessoal



O padre Luciano Borges, da Paróquia São José, esteve na festa pela primeira vez na madrugada deste domingo (8). Ele havia prometido presença durante a missa que rezou em memória às vítimas na tarde de sábado.

A líder comunitária Jessica Maíra conta que passou pelo baile, mas não ficou por muito tempo. Notou a redução de público logo no início da noite. “Foi tranquilo, foi mais o pessoal da comunidade”, afirma.

Grafites
O final de semana também foi marcado por manifestações artísticas em Paraisópolis. Neste sábado e domingo, muros e paredes da viela onde os jovens foram encurralados pela PM receberam grafites com os clamores da comunidade.

“Paraisópolis pede paz, chega de preconceito com o povo pobre”, diz um grafite.

Grafites em muros de Paraisópolis — Foto: Arquivo Pessoal

Viela recebe novas pinturas neste domingo (8) — Foto: Arquivo Pessoal

 

Fonte: G1||
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