Desde a sua adolescência, o eletricista aposentado, Francisco Xagas Silva, 66, morador no bairro Floramar, na região Norte de Belo Horizonte, vem passando por vários problemas de saúde como úlcera, tuberculose e tumores na próstata. Mas foi o infarto sofrido há quatro anos que intriga os médicos e que deverá ser publicado em uma revista de referência mundial – a Ressuscitation.
No dia 31 de dezembro de 2008, o eletricista teve um ataque cardíaco seguido por 70 paradas cardiorrespiratórias em menos de 12 horas – situação sem precedentes na literatura médica, que registra, no máximo, quatro ocorrências após um infarto.
A enfermeira Daniela Morais descobriu a história do aposentado ao pesquisar casos de paradas cardiorrespiratórias atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Belo Horizonte entre 2008 e 2010 para a sua tese de doutorado, defendida neste ano na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A enfermeira usou como uma das fontes da sua investigação os dados dos prontuários dos hospitais da capital, mas foi uma das alunas de Daniela, a filha do aposentado, Ninótica Lessa, que lhe contou sobre a surpreendente história do pai.
Daniela conta que estuda casos semelhantes desde 2005 e que, com a pesquisa, buscava verificar a alta incidência de lesões neurológicas em pacientes que sofreram parada cardíaca fora dos hospitais e que tiveram alta sem sequelas.
Ninótica acredita que o nascimento do neto, Raphael, 3, tenha contribuído para o fato. Ele assistiu ao parto e, após 15 dias, foi internado. Depois de 15 dias em coma, sendo, no total, 21 dias hospitalizado, ele acordou chamando pelo meu filho, lembra. Francisco conta que era fumante e que, depois do ocorrido, mudou alguns hábitos. Hoje ele faz academia regularmente e, nos fins de semana, vai ao clube. Por ser devoto de nossa senhora de Fátima, acredito que tenha tido a mão dela na minha vida, diz o aposentado.
Apesar da mudança de vida, a filha revela que ela e a mãe nunca ficam tranquilas. Sempre estou por perto com alguns equipamentos: o oxímetro portátil, o glicosímetro e o esfigmomanômetro (aparelhos que medem a oxigenação do sangue, a glicose e a pressão, respectivamente), conta. Já a mulher do aposentado, Fidélia Silva, ficou diabética após o ?susto? e é responsável pela alimentação do marido.

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