Dos rincões de Minas Gerais e Pernambuco para o exigente mercado europeu. Esse é o caminho que 1.843 peças de artesanato da Central Mãos de Minas/Instituto Centro Cape vão percorrer. A instituição, que exporta produtos artesanais mineiros desde 2001 e de todo o Brasil desde 2008, faz esta semana sua maior exportação para um único comprador, que vai render quase R$ 55 mil.
O importador alemão, Christian Baroke, em visita à 20ª Feira Nacional de Artesanato, que aconteceu em Belo Horizonte em novembro, conheceu o trabalho dos artesãos mineiros Ademar Alves Viana, Marisa Lanna e Maria Lila Caçador e do pernambucano Leonildo Ribeiro, e se interessou pelos produtos em pedra sabão, papel marchê, mosaico e cerâmica. Para enviar as 143 caixas de artesanato para a loja Potschke Ambiente, na Alemanha, foi fechado um contêiner. Mas o mais importante nesse negócio é que este é apenas o pedido inicial do comprador alemão.
De acordo com a presidente do Instituto Centro Cape, braço da Central Mãos de Minas, Tânia Machado, esses mais de 1,8 mil produtos serão usados na elaboração de um catálogo, que será publicado por Baroke para apresentar as peças aos clientes. Se a aceitação do mercado for positiva, a demanda vai aumentar e os artesãos terão vendas garantidas para os próximos anos.
A expectativa da instituição em relação a esse pedido da Alemanha é fazer quatro embarques anuais, lembrando que o país é o segundo maior importador do artesanato brasileiro. ?Os artesãos já estão se preparando para um novo pedido de Baroke em abril, que deverá ser enviado em junho?, ressalta a presidente.
A artesã Marisa Lanna, que produz mosaico e é associada do Mãos de Minas há 11 anos, conta que essa exportação foi sua primeira experiência de produção em larga escala. ?Tive que aumentar a minha equipe. Éramos apenas duas artesãs e depois da solicitação de Christian Baroke, tive que contratar mais quatro pessoas?. Segundo ela, antes do pedido eram oito horas de trabalho manual, e, para conseguir entregar os produtos em um mês, sem deixar cair a qualidade, foi preciso aumentar o tempo de trabalho para 14 horas diárias. A expectativa da artesã é de que venham outros pedidos internacionais do mesmo porte. Ela revela que em 11 anos esse será seu maior lucro: ?Vou receber 60% a mais do que em outros trabalhos, nunca vendi essa grande quantidade em nenhuma feira, e a tranquilidade de trabalhar com a garantia de saída total da produção é inexplicável?.
Outra artesã envolvida na exportação é Maria Lila, que produz peças em papel marchê desde 2005 em São João Nepomuceno, e confirma o otimismo em relação aos contratos internacionais. Ela conta que para conseguir entregar a encomenda a tempo, precisou de 18 horas de trabalho diário. A produção de 108 bonecas feitas de papel marchê e garrafas pet começou em 12 de fevereiro e contou com a ajuda de outros seis profissionais, inclusive durante o carnaval. Essa foi a maior venda da artesã, que acredita que só conseguiu a encomenda por causa do apoio da Mãos de Minas. O artesanato é a única fonte de renda da ex-professora e, para ela, suas peças conquistaram a atenção do empresário alemão devido à preocupação sustentável em reaproveitar garrafas pet.
E os produtos artesanais brasileiros não fazem sucesso apenas nos Estados Unidos, como no início das exportações da Central Mãos de Minas/Instituto Centro Cape. Países europeus, como Portugal, Espanha e Alemanha também estão entre os principais importadores das peças produzidas pelos oito mil artesãos associados ao Mãos de Minas. Segundo o gerente de exportações, Arnaldo Galvão, a expectativa de para esse ano é de obter uma receita de US$ 3 milhões com os embarques. Ele conta que por onde os produtos passam o sucesso é garantido. ?Da última feira que participamos em Nova York, surgiram mais de 100 pedidos, sendo que desses, 84 são novos clientes?.

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