Belo Horizonte viveu cenas de caos na quarta-feira (26), quando vândalos se aproveitando das manifestações pacíficas do povo nas ruas depredaram e botaram fogo em lojas, entrando em confronto com a polícia. O clima de tensão na capital mineira, que resultou na morte de um jovem de 21 anos, chegou aos corredores da seleção brasileira, que venceu o Uruguai no Mineirão e se garantiu na final da Copa das Confederações. Alguns jogadores, como o goleiro Júlio César, disse que os atletas estão acompanhando por todo país a série de manifestações públicas. ?Nós ficamos sabendo da manifestação próxima ao Mineirão, mas a gente pensou somente em focar na partida. A gente sabe que o Brasil está passando por um momento de manifestações, e que isso acaba tirando muito o foco da Copa das Confederações. A gente não deixa de seguir o que está acontecendo no nosso país, não deixa de conversar sobre o que vem acontecendo num almoço, num jantar. Acabou virando um debate entre nós jogadores sobre tudo isso que vem acontecendo, mas temos um limite porque estamos representando a Confederação Brasileira de Futebol. Acabando a competição, acho que os jogadores vão se manifestar. Alguns já fizeram isso e o que a gente mais torce é que isso seja o mais rápido possível resolvido, porque começou com manifestação pacífica e agora veio violência, virou tumulto, quebra carro, invade prefeitura e isso acaba preocupando todo o povo brasileiro?, afirmou o goleiro em entrevista coletiva. As cidades-sede do torneio foram alvos dos protestos, com muitos confrontos entre polícia e manifestantes perto de estádios em dias de partidas da competição.
Visão de fora
Em países da Europa, estudiosos apontam que o cenário de manifestações no Brasil durante um grande evento pode indicar uma nova política na Fifa para escolher as sedes de eventos futuros. ?O que está acontecendo atualmente no Brasil deveria ser um divisor de águas para a Fifa e a Copa do Mundo. A entidade deveria responder trabalhando mais estrategicamente para garantir que futuras Copas do Mundo não sejam apenas vitrines de duas semanas, mas que tenham um legado de mais longo prazo para os países anfitriões. De certa forma, isso é um teste para a Fifa e para sua capacidade como organização de se adaptar, reagir e aprender?, disse Simon Chadwick, professor de marketing esportivo da Universidade de Coventry, na Grã-Bretanha, em entrevista para a agência de notícias Reuters.
Recuo
De acordo com Chadwick, a Fifa nunca foi especialmente aberta, direta ou exaltada para acentuar o legado como um elemento para quem se candidata e recebe os eventos. ?Tais discussões estão frequentemente centradas no número de pessoas que jogam o jogo e no desenvolvimento das bases e das competições?, disse ele. Enquanto o Brasil terá pela frente não só a Copa do Mundo, mas também os Jogos Olímpicos em 2016, países como a Suíça recuam em relação aos grandes eventos. O país, um dos mais prósperos do mundo, anunciou a retirada de sua candidatura para ser sede das Olimpíadas de Inverno em 2022, após referendo feito junto à população, que votou contra a realização do evento no país. A alegação principal dos suíços é de que até as próprias candidaturas já se tornaram muito caras e custam milhões de euros.

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