Dou um doce ao jornalista que for capaz de dizer até onde vai a responsabilidade da imprensa na divulgação de notícias. Quando carregava nos ombros o pomposo nome de diretor regional do “Jornal do Brasil” em Minas (refiro-me ao antigo “JB”), sofri muito com isso. E as equipes de jornalistas, com as quais trabalhei em Belo Horizonte, eram de primeira linha, mas compostas de gente bem mais nova que eu.
Além da excelente prata da casa, fazia questão de manter proveitosa relação com alguns companheiros mais antigos, que trabalhavam no Rio e nas regionais de São Paulo, Brasília e Rio Grande do Sul. Alguns deles: meus irmãos Otto e Luís Lara Resende, Wilson de Figueiredo, Luiz Orlando Carneiro, Carlos Castello Branco e Lucídio Castello Branco (irmãos), Alberto Dines (falecido na semana retrasada), Carlos Lemos e Mauro Guimarães, já falecidos. Lucídio foi diretor em Porto Alegre e lá reside. Otto nos deixou aos 70 anos, em plena saúde física e mental, mas, principalmente, intelectual, em incidente cirúrgico mal-explicado. Castellinho faleceu três anos depois do Otto. Meu irmão Luís, Figueiró e LO (apelidados assim pelos amigos) seguem bem.
Li e reli, há poucos dias, o artigo “País estranho”, de autoria não de um jornalista, mas do professor e experiente advogado tributarista Sacha Calmon Navarro Coelho. Entre muitas outras coisas, o autor salientou que, “neste estranho país, depois de assumir o poder em meio à maior recessão econômica jamais vista, um presidente baixa os juros a 6,5% ao ano e a inflação a 2,8%, atualizada (estabilidade), mas tem apenas 6% de ótimo ou bom nas pesquisas. O país adora o juiz Moro e os juízes que combatem a corrupção, mas o partido mais corrupto, o PT, tem 20% de aprovação, e seu líder, encarcerado, 25%”.
Mas o que de fato desejo ressaltar, no artigo acima referido, é a menção ao que seu autor chamou de “mídia”. Após afirmar que “o crescimento (no país) começa a perder força”, deixou-nos esta crítica: “A mídia, a sua vez, quer divertir-se com fofocas e especulações e receber a paga, não se enfronha no essencial. E la nave va”…
No mesmo dia, me encontrei com o jornalista Mauro Werkema, que, gentilmente, me disse que tem lido meus artigos (e eu os dele, disse-lhe de pronto). E, em seguida, acrescentou: “E noto o esforço que você faz, nas entrelinhas, para não piorar as coisas…” Tomei a observação como elogio, pois reconheço que sou cauteloso ao escrever.
O artigo de Sacha Calmon e a observação de Mauro Werkema, dois velhos amigos, me levaram a iniciar este texto com uma provocação aos que lidam, diariamente, com as notícias e as dificuldades existentes em sua apuração. Não pretendo chegar a nenhuma conclusão, só dizer algo – que não é novo – sobre a responsabilidade da imprensa.
Ou seja: o papel da imprensa é dar condições ao leitor de formar opinião sobre o país e o mundo nos quais vive. Uma de suas principais missões é revelar o que os poderosos querem esconder. Hoje, quando o país experimenta momentos dramáticos, e diante de inúmeras denúncias, nem sempre todas verdadeiras, provenientes, sobretudo, da operação Lava Jato, há que se ter maior cuidado em sua divulgação. Mesmo assim, alguns erros podem ter acontecido e ainda poderão acontecer. Enfim, a imprensa erra no varejo, mas acerta no atacado.
Nunca será fácil à imprensa, leitor, “enfronhar-se no essencial”, pois é exatamente isso que os poderosos desejam esconder.

 

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