O bitcoin deu mais um grande passo nessa segunda-feira (18) ao estrear na maior bolsa de futuros do mundo, a CME, em Chicago. Para analistas, o movimento significa um amadurecimento do mercado das moedas digitais. Na semana passada, a CBOE já havia iniciado negociações semelhantes.

Diferente do que aconteceu na estreia da CBOE, na CME o contrato futuro apresentou uma desvalorização, fechando o dia a US$ 19.060, uma queda de 2,26% na comparação com os US$ 20.650 da abertura. Além disso, os preços na bolsa de futuros se mantiveram levemente acima do mercado à vista (nas exchanges), enquanto no primeiro dia de negociação na Chicago Option Exchange (CBOE) houve um descolamento de 13%.

De certa forma, é um reconhecimento do potencial de valor das moedas virtuais, afirmam os especialistas. “Tanto a CME quanto a CBOE são empresas centenárias, tradicionais e reguladas pela SEC (equivalente à CVM nos Estados Unidos) e pela Commodity Futures Trading Commission (CFTC). Esse é um marco importante, é como um selo de legitimidade com relação aos ativos digitais”, afirma Fernando Ulrich, Especialista em Blockchain e Criptomoedas do Grupo XP.

André Miceli, professor e coordenador do MBA em Marketing Digital da FGV, concorda que a negociação nas bolsas de futuro são uma “chancela” e dão a credibilidade necessária para mercado levar o assunto mais a sério. “No curtíssimo prazo, isso dá a sensação de segurança aos investidores, deixa de lado aquela ideia do amadorismo, de que tem uma galera vendendo e comprando alguma coisa na internet e que ninguém sabe muito bem o que é”, explica.

Mas a negociação de contratos futuros da criptomoeda não dá apenas a sensação de legitimidade. O fato pode também atrair mais investidores qualificados e investidores institucionais – muitos dos quais não podem ter posições em bitcoin por questões regulatórias, mas podem comprar contratos futuros. E isso, afirmam os especialistas, pode trazer maturidade ao mercado.

Fernando Ulrich explica que a possibilidade de compra de contratos futuros permite a entrada de investidores profissionais e qualificados porque cria ferramentas de hedge – proteção contra a volatilidade do mercado – que eram muito incipientes nas exchanges de bitcoin (sites em que é possível comprar e vender a moeda).

O maior número de investidores – e de profissionais – poderá aumentar a liquidez no mercado do bitcoin. Além disso, deve diminuir a volatilidade do preço do ativo.  “Provavelmente vão entrar investidores profissionais que vão acabar impedindo esses movimentos, o mercado deve começar a chegar em um momento em que não é mais possível ser o ‘eletrocardiograma’ que é hoje. Acho que não vamos ver mais uma variação intraday de 20% a 30% todos os dias”, diz Miceli. Segundo ele, essas mudanças devem acontecer lentamente, em no mínimo um ano. “Isso não quer dizer que o preço do bitcoin hoje não seja uma bolha”, alerta.

Isso significa, inclusive, que provavelmente haverá menos espaço para investidores que lucram na compra e venda da moeda diariamente – que atualmente conseguem ganhos expressivos com as flutuações diárias de preço.

A abertura do mercado de futuros de criptomoedas abre espaço também para a regulamentação de ETFs de bitcoin, diz Ulrich, da XP. Segundo ele, há mais de uma iniciativa esperando aprovação da Sec, nos Estados Unidos. “O ETF é um ativo negociado na New York Stock Exchange (NYSE) ou na Nasdaq, que teria o bitcoin como lastro. Hoje há ETFs de ouro, com emissores responsáveis por assegurar que há lastro no ativo. Isso permitiria a entrada de mais investidores e uma maior liquidez”.

No futuro, Ulrich acredita inclusive que o bitcoin pode se tornar um ativo de proteção. “Principalmente entre os millennials têm crescido essa percepção do bitcoin como um ativo de proteção, que oferece um hedge contra as oscilações da política, a inflação e podem blindar o investidor contra crises financeiras e bancárias – já que é um ativo que não pode ser confiscado e não há restrição para levá-lo de um país a outro”, defende. “O papel que o ouro teve nos últimos 40 anos começa lentamente a migrar para o bitcoin”.

Como funciona o mercado de contratos futuros?
Quem compra um contrato futuro, explica André Miceli, da FGV, está comprando o direito de fazer uma operação de compra no futuro. “Eu pago US$ 1.000 pelo direito de comprar um bitcoin seu por US$ 15.000 daqui a um ano”, exemplifica. Até o vencimento, quem tem esse “direito” pode vende-lo para outros investidores. “Quanto mais perto da data de vencimento, menos volatilidade e mais o preço se aproxima do preço real do ativo”, explica.

 

 

Fonte: IstoÉ Dinheiro ||

COMPATILHAR: