Salvar a água, bem natural mais ameaçado do planeta, pode começar dentro do banheiro das casas e apartamentos, especialmente nas grandes cidades. No Brasil, nada menos que 40% de toda a água consumida nas residências são jogados, literalmente, na privada. De acordo com estimativas da Copasa, cada seis segundos com o botão da descarga pressionado libera dez litros pelo cano. Em um mês, isso significa que quase 20 mil litros de água tratada vão para o esgoto.
Para tentar reduzir esse consumo, especialistas apontam inovações tecnológicas ? algumas delas já disponíveis no mercado ? e iniciativas curiosas, como a campanha ?Faça xixi no banho?, lançada em 2009 pela organização não-governamental SOS Mata Atlântica. À época, uma enquete lançada no site chegou ao resultado de que 76% das pessoas que acessavam o site já faziam xixi no banho e 24% não eram adeptos da prática.
Em sua defesa, a ONG assegurava que, como o líquido é composto por 95% de água, e que os outros 5% são uma mistura de ureia com sais minerais, a prática não é anti-higiênica e é ecologicamente muito significativa. A campanha, direcionada a crianças e jovens, ainda está disponível para educadores e pais no site xixi no banheiro.
Outra medida relativamente simples é fechar as torneiras enquanto se ensaboa ou escova os dentes. Segundo Givanildo de Almeida Cruz, agente sanitário da Copasa na Região Metropolitana de Belo Horizonte e responsável pelas palestras da empresa ? especialmente em escolas públicas -,cerca de 80% de todo o consumo de água de uma casa acontece no banheiro. A descarga consome 40% do total. O chuveiro, 30%. A pia, outros 10%.
Em média, um banho de 15 minutos consome 135 litros de água, com pequenas variações de acordo com a rede de abastecimento da casa ou modelo de chuveiro. Se esse mesmo banho acontecer em 8 minutos, e se o consumidor fechar a torneira enquanto se ensaboa, o consumo cai para 45 litros. ?É uma economia enorme, com medidas muito simples?, destaca.
Outro ponto destacado pelo educador é a prática de lavar calçadas e carros com mangueiras ligadas o tempo todo. ?Este desperdício é simplesmente um absurdo. É jogar fora o trabalho de toda uma rede. As pessoas usam as mangueiras como vassouras, isso em Minas e no Brasil. Em determinados países, essa prática seria impensável?, destaca. ?Só com educação, poderemos convencer as próximas gerações sobre como economizar?.
Lei mexicana serve de exemplo
Uma lei aprovada na década de 1990 na cidade do México, que divide com Tóquio o título de mais populosa do mundo, é considerada exemplo mundial na redução do consumo de água. Com problemas históricos de abastecimento, a capital mexicana, que já ultrapassou os 24 milhões de habitantes, criou incentivos fiscais para quem adotasse descargas com caixas acopladas, que despejam o máximo de 6 litros em cada acionamento.
Depois disso, mais de 350 mil vasos foram trocados. O resultado foi que, em menos de uma década, o consumo de água foi suficiente para o abastecimento de mais de 250 mil residências. Essa água seria suficiente para abastecer, por exemplo, toda a população de uma cidade do porte de Governador Valadares, na Região Leste de Minas Gerais.
No Brasil, de acordo com estimativas da Agência Nacional de Gestão das Águas (ANA), a maioria das descargas é embutida na parede, modelo de maior consumo. Estes aparelhos jogam até 30 litros de água no sanitário a cada 10 segundos.
Para reduzir o problema, algumas empresas, como a Deca, já dispõem de descargas com acionamento duplo. Um dos botões é só para urina. No caso de vasos com bacia acoplada, despeja três litros de água. O outro, acionado separadamente, despeja os seis litros tradicionais. O modelo de acionamento duplo também está disponível para ser colocado na parede e abre apenas metade da válvula, economizando de acordo com a instalação de cada residência.
Para Flávio Dionísio, da equipe de marketing da Deca, o mercado está aberto a este tipo de produto. ?Já faz algum tempo que também passamos a nos preocupar com o futuro de nosso planeta. Portanto, passamos a desenvolver produtos que aliassem o bem-estar com o engajamento ambiental?, afirma.
Estimativas da Organização das Nações Unidas apontam que a superfície da terra é composta por 70% de água. Desse volume, apenas 30% são potável, mas 29% estão presos nas geleiras das calotas terrestres. O que sobra para o ciclo de rios e lençóis subterrâneos é 1% da água do mundo. A ONU avalia que esse volume já está ameaçado devido ao consumo das cidades ? que escoa a água do local por onde ela circula e a devolve poluída ao ciclo ? à agricultura irrigada e à produção industrial.

COMPATILHAR: