A Agência Espacial Americana (Nasa) mantém um site de imagens, principalmente imagens astronômicas, com atualização diária. As imagens não partem apenas da própria Nasa ou de astrônomos profissionais, qualquer pessoa pode enviar sua contribuição que vai ser analisada e entrar numa espécie de concurso. Dois astrônomos de duas universidades são responsáveis por analisar cada uma das imagens submetidas e escolher a melhor. Depois da escolha, os dois escrevem um texto explicativo sobre a foto, mas também contextualizando a ciência que a imagem apresenta.

O site se chama-se (em tradução minha) Fotografia Astronômica do Dia (Astronomy Picture of the Day, ou APOD) e pode ser encontrado com facilidade.

Algumas vezes a foto escolhida é uma imagem profissional, enviada por um pesquisador, mas também há casos em que entusiastas da astronomia baixam as imagens do Hubble, por exemplo, e as processam elas mesmas, para depois submetê-las ao APOD. Claro, tem muita coisa enviada por entusiastas e fotógrafos amadores, de modo que a disputa é bem heterogênea. Não obstante, os editores balanceiam bem os tipos de imagem para não privilegiar nenhuma categoria. Por esse motivo, ter uma imagem publicada no APOD já virou um prêmio quase igual a ganhar um Oscar!

Se a comparação for adequada, um brasileiro já está bem próximo de se igualar a filmes como Titanic, O Retorno do Rei e Ben Hur, recordistas no número de Oscars recebidos.

Carlos Fairbair conseguiu emplacar mais uma imagem no APOD no final de setembro. Com essa imagem, já são nove “prêmios”.

Basta repetir o feito mais 2 vezes para se igualar aos prêmios recebidos pelos filmes acima.

A primeira vez que ele conseguiu esse feito foi em 2015, quando o APOD publicou uma foto do Cruzeiro do Sul tirada no Parque Nacional de Itatiaia (RJ), mas que incluía outros objetos de destaque como a Nebulosa de Carina, vários aglomerados de estrelas, além do próprio braço da Via Láctea. De lá para cá ele veio se aprimorando nas técnicas e equipamentos, como ele me contou, conseguindo emplacar mais 8 imagens no site ao longo desses últimos 4 anos.

Se você acha que ele é um fotógrafo profissional, você está enganado! Num bate papo que tivemos esses dias, ele me contou que tinha interesse pela fotografia e os astros desde a infância, mas que começou a levar mais a sério em 2014. No ano seguinte fez a sua primeira imagem noturna com câmera, tripé e lentes simples. Hoje, com aplicativos que controlam a câmera de smartphones é possível fazer o mesmo em aparelhos de celular. Com um pouco de paciência e experiência é possível obter resultados impressionantes. Algumas imagens obtidas assim já foram parar no APOD também.

Fairbairn contou que acabou aprimorando sua técnica com a ajuda de vídeos e cursos on-line, mas destaca que a interação com outros colegas nos eventos do Encontro Brasileiro de Astrofotografia, que ajuda a organizar, é bem mais produtivo. O encontro já está na sua 11ª edição e até um livro eletrônico com as imagens dos participantes do evento foi publicado.

O último feito de Fairbairn retrata a constelação do Órion subindo no horizonte, com bastante destaque para as estrelas e as famosas Nebulosas do Órion e da Cabeça do Cavalo. É imagem que abre este texto.

Ela foi feita perto da cidade de Padre Bernardo (GO), no meio do cerrado com destaque para um grande Jatobá abaixo do caçador. Além do APOD, o trabalho de Fairbairn teve reconhecimento do Observatório Real de Greenwich (Inglaterra), quando ganhou o prestigiado prêmio de melhor fotógrafo de astronomia de 2016 na categoria revelação com uma imagem da Grande Nuvem de Magalhães.

As imagens são muito bonitas e vale a pena dar uma procurada na rede por elas. Apesar de passar horas em campo aberto, muitas vezes com temperaturas congelantes, e depois ainda passar alguns dias processando a imagem final, Fairbairn diz que a experiência é muito recompensadora e que o faz se conectar com o universo ao nosso redor, mas principalmente, que nos faz aumentar a curiosidade sobre ele.

 

Fonte: G1 ||
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