Os adultos brasileiros bebem, em média, 8,7 litros de álcool puro por ano – quantidade que já foi maior, mas continua sendo uma das mais altas nas Américas e supera a média mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a medição, o país tem a nona maior média de consumo alcoólico, entre 35 países pesquisados no continente (veja infográfico). Nos três anos anteriores, os adultos brasileiros consumiam 9,8 litros de álcool puro, terceira maior média do continente. Em tempo: por “álcool puro” entende-se o equivalente a cerca de 13,5 g por dia.

 

O relatório da OMS cita outro estudo que identifica o álcool como a maior causa de mortes entre jovens brasileiros entre 15 e 19 anos. E, “ainda que o Brasil tenha repetidamente imposto leis para baixar o limite legal de teor alcoólico no sangue e aumentar as penas para quem bebe e dirige, esses esforços não têm tido efeitos duradouros na segurança viária”, aponta o texto.

Segundo a brasileira Maristela Monteiro, assessora principal sobre abuso de substâncias e álcool da OMS, há uma cultura de consumo de bebidas instalada na América Latina, criando um importante problema de saúde pública regional.

“Na América Latina e no Caribe, as pessoas consomem em média 8,4 litros de álcool puro por ano, 2,2 litros a mais do que a média mundial”. Segundo ela, a consequência é que, em 2012, houve uma morte a cada cem segundos em decorrência do álcool – 80 mil mortes poderiam ter sido evitadas naquele ano caso o consumo de álcool não tivesse ocorrido.

Maristela ressalta um dado particularmente relevante: apenas 10% dos consumidores bebem, em média, mais de 40% de todo o álcool consumido na região. “Não se trata de tomar uma quantidade moderada por gosto ou por saúde, como, por exemplo, o de vinho. O consumo se concentra em grandes doses”, diz a especialista. “Especialmente entre os jovens, que o veem como uma espécie de ritual com prestígio social”.

 O consumo per capita por homens brasileiros é de uma média de 13,6 litros de álcool puro por ano, segundo medição feita pela OMS com adultos entre 2008 e 2010. Apenas cinco países da região superam esse nível de consumo. Entre as mulheres brasileiras, o consumo per capita é de 4,2 litros de álcool puro por ano.

Mas o que explica o alto consumo de bebidas alcoólica na região? “Algo está mudando na América Latina”, diz Maristela. “Nunca houve uma forte cultura de consumo na região, mas o desenvolvimento econômico e novos valores importados da globalização estão fazendo com que o consumo excessivo e abrupto seja uma tendência”.

Além disso, ela menciona fatores como o crescimento da indústria de bebidas. “O álcool chega a todas as partes: foram melhoradas as cadeias de distribuição, há mais estabelecimentos e oferta, e tampouco é desprezível a pressão que a indústria sabe exercer sobre os governos para que os preços do álcool fiquem baixos e não haja regulações”.

 

“Não se trata de tomar uma quantidade moderada por gosto ou por saúde, como, por exemplo, o de vinho. O consumo se concentra em grandes doses”.

O Tempo

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