O que já há algum tempo vem sendo desnudado pela denominada “operação lava-jato” e procedimentos correlatos é tão somente uma pálida mostra do que decorre do nefasto contubérnio envolvendo políticos inescrupulosos e empresários gananciosos. A situação está de tal forma arraigada que os políticos, salvo alguma possível exceção, não desgrudam dela. É o combustível que os mantém no exercício da nobre atividade, que não costuma ser por eles exercida com honradez.

A vida pública de um político é muito cara, mas não é usual ele custeá-la com seus próprios recursos. Daí a iniciativa de engendrar mecanismos paraa consegui-los, per fas ou per nefas. Não importa a origem, desde que satisfaçam seus interesses. Na época das eleições é um deus nos acuda. Não há dinheiro que chegue. Quando questionados, a resposta está na ponta da língua: “São doações legais, declaradas à justiça eleitoral”.

É verdade. Do ponto de vista formal está tudo correto, mas isso não atesta a lisura do feito. Aliás, formalidade não vale nada. Uma análise criteriosa de um fato deve considerá-lo por inteiro e não apenas na sua forma. Um servidor público pode, por exemplo, receber do erário, como ressarcimento, mediante a apresentação de uma nota fiscal, um valor referente a um gasto com combustível, cuja utilização seria para a realização de uma diligência oficial necessária para o serviço público. O ressarcimento é feito sem maiores questionamentos, ou, no máximo, com uma declaração do servidor de que o combustível foi usado para aquela finalidade. Será que foi? É ingenuidade crer que os beneficiários não saibam da tramoia que envolve a obtenção dos recursos. Não apenas sabem como são os seus mais ativos protagonistas. São uns caras de pau.

A quantidade de dinheiro provinda dessa execrável maracutaia é tamanha que, se bem administrada por gestores competentes e honestos, seria suficiente para, entre outras coisas, melhorar a prestação de serviço de saúde dos mais necessitados, minorando-lhes a angustiante condição de não contarem com o mais básico e necessário para um viver com dignidade, apesar de ser um direito seu.

Esta e tantas outras mazelas que afligem um sem-número de pessoas emanam da que pode ser considerada a caixa de pandora fabricada pelos artífices da engrenagem que mantém o funcionamento da espúria arrecadação de dinheiro que, no frigir dos ovos, acaba saindo dos cofres públicos e, por via de consequência, do bolso de todos os brasileiros.

Pelo andar da carruagem, ainda tem muita água para passar debaixo da ponte, podendo ser em volume maior do que se possa imaginar.

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