Desde 2012 o número de empresas inadimplentes cresce no Brasil. Não por acaso, essa curva de devedores ficou mais acentuada com a alta da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que após atingir o menor patamar em janeiro de 2013, não parou de subir, gerando a piora do indicador de inadimplência.

Juro mais alto é sinônimo de maior dificuldade de pagamento. São 4 milhões de empresas no país em situação de inadimplência, um recorde. A soma das dívidas chega a R$ 92 bilhões e cresceu R$ 12 bilhões em pouco mais de um ano.
Os dados são da Serasa Experian e também revelam que, dentre as companhias inadimplentes, a maior parte (46%) é do setor comercial, como de vestuário e autopeças. Outros 44% são do segmento de serviços, como bares, restaurantes e salões de beleza. A indústria responde por 9% dos devedores. Como os juros se mantêm em patamares elevados e a conjuntura econômica se deteriorou, as perspectivas são de agravamento deste cenário, com aumento do estoque de inadimplentes.

“O juro alto pressiona os custos do crédito e aumenta a dificuldade de as empresas rolarem a dívida. O impacto é mais forte em setores que precisam de muito capital de giro, como serviços e alimentação, e aqueles que se endividam muito antes de ter faturamento por ter um processo de produção demorado, como empresas de tecnologia, fabricação de aviões e navios”, afirma o coordenador do curso de Economia da faculdade Ibmec, Márcio Salvato.

Ele enxerga uma trajetória de queda nos juros apenas para meados de 2016 e uma recuperação mais forte da economia apenas no final do próximo ano. É essa conjuntura que propiciará a redução do volume de empresas inadimplentes. “O consumo, que sustentou o crescimento da economia por alguns anos, precisa voltar para aliviar as condições dessas empresas”, diz o professor.

A conjugação de redução de consumo com aumento de custos é perversa para bares e restaurantes, setor onde uma em cada três empresas trabalha com prejuízo, segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Lucas Pêgo. “Pelo monitoramento que realizamos, a tendência é a de que um terço das empresas opere no vermelho em breve porque a situação não está melhorando. Naturalmente isso vai gerar mais inadimplência”, diz.

A elevação de custos para o segmento vem de seus insumos – sendo alimentos o principal deles. De acordo com a Fundação Ipead, a inflação em Belo Horizonte teve alta de 8,65% até setembro.

“Alimentos in natura” é o item com maior variação positiva detectado na pesquisa, de 13,37%. Apesar disso, a alimentação em restaurante teve elevação de preços abaixo da inflação, contabilizando alta de 7,43% nos nove primeiros meses deste ano.

O vice-presidente da CDL-BH, Marco Antônio Gaspar, traça um cenário desanimador. “A situação das empresas tende a piorar na medida em que a situação econômica do país piora”, diz.

Falência de empresas em Minas Gerais em 2015 é maior do que em todo o ano de 2014

O número de falências e recuperações judiciais de empresas em Minas Gerais decretadas neste ano, de janeiro a setembro, já superou o volume de todo o ano de 2014, de acordo com dados da Serasa Experian.

Foram 44 empresas que faliram nos nove primeiros meses do ano no Estado, contra 40 em todo o ano de 2014. As recuperações judiciais chegaram a 45 neste ano, ante 33 em 2014, uma elevação de 36%, mesmo faltando três meses para o fim do exercício.

Na pesquisa nacional, verifica-se também um movimento de maior número de recuperações judiciais decretadas em três trimestres deste ano do que em todo 2014. São 777 (2015) contra 671 (2014). No entanto, é particularidade mineira o número de falências neste ano ter sido maior do que nos 12 meses do ano passado. Até novembro, foram contabilizadas 659 empresas falidas no país, enquanto 2014 totalizou 740.

Embora já seja grave, a tendência, em Minas Gerais, é de piora no cenário. “Isso é só o início, infelizmente. A renda média do trabalhador cai, reduz o consumo, aumenta o desemprego. É um círculo vicioso que leva o comércio à falência”, diz o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar.

Ele não enxerga luz no fim do túnel e prevê dias piores. “Acrescente ainda neste cenário aumento de impostos e inflação de dois dígitos. Precisamos de uma reengenharia na política econômica para mudar o rumo”, afirmou.

Em Belo Horizonte, neste ano, vários estabelecimentos tradicionais já fecharam as portas, de concessionárias a livrarias, passando por restaurantes e bares. “O setor de bares e restaurantes está, de certa forma, acostumado a assistir o fechamento de muitos estabelecimentos. É muito alto o número de empresas nesse setor que fecha antes de completar dois anos, e isso por má gestão e falta de planejamento. Mas estamos acompanhando negócios de mais de 10 anos de mercado fechando as portas. Isso é mais preocupante que o número de empresas fechadas”, observa o diretor-executivo da Abrasel-MG, Lucas Pêgo.

 

Os dados da associação revelam que, no segundo trimestre deste ano, o faturamento do setor de bares e restaurantes caiu 6,34% em relação ao trimestre anterior. Este é o último dado disponível. “Além da menor receita, temos aumento de despesa. Por isso a conta não fecha e a situação vai se agravado”, diz Pêgo.

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