Quem conhece a história e acompanhou nas seis últimas décadas o que os mineiros sofreram com a implantação da Usina Hidrelétrica de Furnas, certamente, concordará com a afirmação que serve de título para mais este desabafo.

Quem se lembra do que aconteceu com a economia de grande parte das regiões Sul e Centro-Oeste do Estado de Minas, – após a inundação de milhões de hectares de nossas terras mais férteis, as produtivas várzeas que, uma vez exploradas através do trabalho, com persistência e muito suor vertido por nossa população rural, geravam renda e empregos para a economia mineira – fica, de uns tempos para cá, sem entender quais as razões que levaram as tais agências reguladoras a promoverem, sistematicamente, o esvaziamento do lago aqui formado.

O multiuso das águas garantido constitucionalmente e prática comum mundo afora, aqui no nosso caso, passou a ser desrespeitado e o que se viu, em especial nas últimas décadas, foi que as águas, primitivamente tidas como fonte de grande importância para o país à época da implantação da usina, num Brasil ainda carente na produção de energia, serem desviadas, e aqui, o termo correto é este mesmo, apenas para se atender a interesses outros, que não são os deste Estado.

Aliás, a indignação do nosso saudoso governador Itamar Franco, trazida a público no início dos anos 2000, quando ele promoveu, em sinal de protesto, na região de Capitólio, um acampamento com as forças da Polícia Militar mineira foi a última e mais importante intervenção deste Estado, na defesa dos interesses das populações da área de influência do Mar de Minas, que efetivamente deu, pelo menos àquela época, um resultado positivo.

Agora, com a população cansada de ouvir promessas e desculpas esfarrapadas por parte do Operador Nacional do Sistema (NOS), da Agência Nacional das Águas (ANA), da direção de Furnas e de alguns ministérios federais, um enorme contingente de mineiros insatisfeitos se reuniu por meio das redes sociais e promove uma série de eventos e encontros, participando efetivamente de audiências públicas e outros mais, inclusive, com os órgãos governamentais envolvidos, na busca do estabelecimento de cotas mínimas a serem mantidas no Lago de Furnas e em Peixoto.

Sem isso, o desemprego, os prejuízos e o desalento sentidos pelos habitantes desta imensa região, somados ao sentimento da população, abalada com o não cumprimento de promessas anteriores, resultaram num movimento já chamado de “Nova Inconfidência Mineira”, este prestes a eclodir e, certamente, com resultados danosos, mais que previsíveis.

A ajuda de alguns parlamentares da assembleia mineira e de outros que atuam como deputados federais ou senadores da República, não pode mais ficar apenas na promessa. Urge que estes atuem junto aos ministros e até mesmo na Presidência da República, para que, no pós pandemia, com a volta do funcionamento da indústria sem chaminés e do fluxo turístico que ela possa atrair, e com o retorno da operação de milhares de empresas que gravitam em torno desta atividade, a normalidade volte ao Estado, por meio do desfrute proporcionado pelo multiuso das águas (emprego e renda a rodo).

As condições de infraestrutura existentes no entorno e em muitos dos 34 municípios lindeiros, tais como rodovias, aeroportos, rede hospitalar, rede hoteleira, universidades e as centenas de empreendimentos nelas instalados, além daqueles que há anos estão paralisados em função da ação danosa de “Furnas e seus comparsas”, a partir do desvio de nossas águas para atender os interesses de estados vizinhos, o que precisa urgentemente ser obstado, nos garantirão o retorno das atividades em busca do almejado progresso.

Cabe ao governo federal, o detentor da caneta, tomar as providências cabíveis, para que isto ocorra.

Aqui na esfera estadual, urge que a Assembleia Legislativa, aprove e já, a Pec 52, de autoria do deputado Professor Cleyton, para que assim tenhamos em mãos, um instrumento capaz de coibir esta situação atual que além de incômoda, ainda nos tira o direito sagrado do multiuso de nossas águas.

Também é preciso que os órgãos de defesa ambiental, da fauna e outros, em especial o Ministério Público, visitem o entorno do lago e vejam in loco o tamanho do crime que com o esvaziamento sistemático deste Lago Furnas e as agências promovem ano após ano.

Se em 50 anos as estatísticas nos mostram que para gerar energia e promover outras benesses com as nossas águas, em apenas duas oportunidades Furnas gastou mais que 50% do volume do lago formado, como explicar que aquilo que JK concebeu como “reservatório”, fique por décadas sendo mantido abaixo do projetado?  Reservatório é para se manter vazio ou se trata de algo capaz de nos suprir em caso de uma eventual intempérie da natureza (seca prolongada)?!

Afinal, todo mundo sabe, inclusive as agências acima citadas para onde está indo a água que nos tem sido sonegada (surrupiada) há tempos.

Se o governo federal, conforme dito hoje em solenidade havida no Museu da Inconfidência, ali na centenária Ouro Preto, –  durante o lançamento do Plano Nacional de Retomada do Turismo – enxerga na exploração deste ramo a melhor oportunidade para alavancar a geração de empregos e renda, com o consequente desenvolvimento por ele acarretado, é bom que os envolvidos na execução desta meta, conheçam melhor as potencialidades deste nosso Mar de Minas.

A hora é agora e é só isso que o povo mineiro reivindica, ou melhor, exige!

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