O número de casos de caxumba em Belo Horizonte e em Minas Gerais praticamente dobrou de 2015 para 2016, apesar de as duas doses da vacina contra a doença constarem no Calendário Nacional de Vacinação. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de BH (SMS), as notificações de caxumba foram de 289, em 2015, para 572 em 2016. Em Minas Gerais, segundo o governo do Estado, foram 1.369 casos registrados em 2015, e 2.772, no ano passado.

Janaína Fonseca Almeida, diretora de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde (SES), afirma que a principal hipótese para o aumento da incidência da doença é uma falha vacinal secundária, um termo técnico usado para quando pessoas adquirem uma doença contra a qual haviam sido imunizadas. Ou seja, a caxumba estaria atingindo também indivíduos que receberam as duas doses da vacina.

Ela diz que a tendência é que a imunidade dos vacinados diminua com o passar dos anos. Mesmo assim, a vacina ainda é a melhor política pública de prevenção à caxumba. Tanto que pode ser aplicada em adultos e adolescentes que tenham contato com casos de surtos.

“Se houver mais de três casos em um mesmo ambiente, trabalhamos com vacinas de bloqueio. As pessoas que têm contato com os infectados recebem a dose da vacina conforme seus cartões de vacina”, afirma Janaína Fonseca.

Imunização
De acordo com o Ministério da Saúde, a eficácia da vacina é de 98% nos primeiros anos de vida dos indivíduos e diminui com o passar do tempo. A melhor estimativa da eficácia da vacina para caxumba em crianças e adolescentes é de 64% a 66% para uma dose, e de 83% a 88% para duas doses. As outras duas doenças combatidas pela Tríplice Viral, sarampo e rubéola, possuem uma proteção de 95% em duas doses. A Tetra Viral também combate a varicela.

Mesmo que a vacina não apresente uma eficácia alta contra a caxumba, há um consenso no poder público de que não existe a necessidade de uma terceira dose ou de campanhas de vacinação. Isso foi atestado tanto pelo Ministério da Saúde, quanto pela Bio-Manguinhos (braço da Fiocruz dedicado a vacinas), fabricante da Tríplice Viral.

De acordo com o infectologista Estevão Urbano, além da falha vacinal secundária, podem existir outros fatores para o aumento de casos da doença.

“É possível que exista melhora no número de notificações. Também tem que se levar em conta a globalização, com um maior número de pessoas circulando pelos países e facilitando contágio de doenças infecto-contagiosas”, afirma o especialista.

Para ele, é fundamental uma política pública de valorização das notificações para que se possa fazer uma análise mais criteriosa do crescimento de casos. Segundo o Ministério da Saúde, a caxumba não é uma doença de notificação automática.
Doença provoca custo social quando acomete adultos

A vacina Tríplice Viral entrou para o calendário básico de vacinação em crianças em 1996, e a segunda dose, em 2006. Ou seja, a maioria das pessoas com mais de 21 anos não foi imunizada contra a caxumba. O ideal, segundo o Ministério da Saúde, seria imunizar todos com idade até 29 anos.

De acordo com o infectologista Carlos Starling, no ano passado houve um crescimento no número de adultos com a doença no consultório. “A caxumba é extremamente transmissível. Esse aumento de casos não aconteceu somente no Brasil, mas também na Europa”, diz o médico, que recomenda uma dose de reforço em adolescentes, oferecida na rede particular ( R$ 120).

“É uma doença que preocupa bastante porque provoca uma morbidade muito grande. A pessoa fica muito tempo afastada da escola ou do trabalho, sem poder fazer esforço físico. Isso gera um custo social”, afirma Starling. Nos adultos, a caxumba pode provocar encefalite, meningite, pancreatite e orquite (inflamação dos testículos).

Adolescentes
A pediatra Andrea Chaimowicz explica que a maior incidência de casos tem sido entre adolescentes, especialmente por ser uma faixa etária que circula por vários ambientes. “O contágio acontece especialmente na escola. Nos meses de setembro a novembro, houve surtos em algumas instituições. Mas não é um quadro assustador, pois não é uma doença grave”, explicou.

 

Editoria de Arte/Hoje em Dia

 

Fonte: Hoje em Dia ||

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