O valor da taxa de juros é importante para o funcionamento do sistema econômico. Quando baixa, a taxa de juros estimula o investimento produtivo e o consumo, mas quando a taxa é alta acelera a poupança e faz os agentes adiarem o consumo e investimento.
A crise econômica de 2008, iniciada nos Estados Unidos, gerou uma recessão mundial. Para estimular a economia e evitar depressão, os Bancos Centrais dos países desenvolvidos, inclusive o americano, Fed, reduziram os juros e expandiram o volume de moeda em circulação, e, dessa forma, salvaram da bancarrota as suas instituições financeiras e empresas.
O Fed, devido os efeitos negativos da guerra comercial com a China, sofre pressão de Trump para diminuir as taxas de juros. Isso coloca em dúvida a autonomia do Fed, em um momento onde a economia americana vive a perspectiva de recessão, mesmo praticando taxa de juros de 2,5% ao ano. Os EUA, diferente dos países emergentes, pode também voltar a adotar a política monetária não convencional de emitir moeda, sem diminuir a atratividade dos seus ativos.
Nesses países desenvolvidos o investidor vive dificuldades para se adaptar às baixas taxas de juros, em alguns casos negativas, pois essas são um desestímulo ao seu rentismo improdutivo.
O Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, tem altos spreads (diferença entre a taxa de captação e a de empréstimo) e conta com grande concentração bancária, onde cinco bancos controlam mais de 80% de todo o crédito oferecido.
Além disso, utilizou diversos recursos anticíclicos para evitar sofrer os efeitos da crise de 2008, mas não adotou procedimento de injeção de moeda na economia e apresenta, desde 1994, a menor taxa de juros real. Em 2003, era 13,20% ao ano, em 2018 foi 3,06% e em julho de 2019 foi de 1,81%. Para consolidar esse quadro, é preciso dar prosseguimento às ações estruturais para solucionar os déficits públicos persistentes e estimular a concorrência bancária.
Internamente, a confiança e a credibilidade do país melhoraram, seja pela aprovação da reforma Trabalhista e da Previdência encaminhada no Congresso, mas também por ter inflação declinante, grande volume de reservas cambiais e baixo déficit em conta corrente.
Externamente, vivemos um panorama conturbado, com recessão mundial, desordem dos mercados financeiros, possível fuga de ativos de risco de países emergentes, diminuição dos preços das commodities, guerra comercial entre EUA e China, crise na Argentina, etc.
Analisando todos os fatores, o Comitê de Política Monetária (Copom) tem espaço para fazer novos cortes e assim manter a sequência de queda dos juros para incentivar a economia, com acompanhamento posterior minucioso e diário do cenário mundial. Somente deve ser interrompida a queda dos juros, caso a crise mundial acarrete a fuga de ativos do Brasil para locais mais atrativos ou venha a repelir decisões de investimento produtivo.

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