Um mundo livre das doenças hereditárias. É o que propõe uma equipe de cientistas chineses que, pela primeira vez na medicina, conseguiu editar o DNA de um embrião humano para corrigir uma das mutações responsáveis pela talassemia beta – doença genética que provoca anemia e pode levar à morte.
O feito, que está sendo chamado de “cirurgia química”, abre caminho para novos estudos sobre a cura de outras doenças genéticas, como a anemia falciforme.
A equipe da Universidade de Sun Yat-sen usou uma técnica chamada “edição de base” para corrigir um único erro entre as 3 bilhões de letras do nosso código genético.
Eles alteraram embriões feitos em laboratório para “extrair” do genoma a doença talassemia beta. A equipe acredita que o experimento pode levar, algum dia, ao tratamento de uma série de doenças herdadas geneticamente.
A talassemia beta é provocada por uma mudança em uma única base no código genético – conhecida como “mutação pontual”. Os pesquisadores chineses a “editaram de volta”. Eles copiaram o DNA e trocaram o G por um A, corrigindo o problema.
Os experimentos foram feitos com tecidos de um paciente com a doença, e usaram-se embriões humanos clonados. “Esse estudo demonstrou a viabilidade de se curar doenças genéticas em embriões humanos com o sistema de editor de base”, escreveram os pesquisadores na revista especializada “Protein&Cell”

Técnica precisa ser aprimorada

Dos 30 embriões que receberam a injeção da ferramenta, 26 sobreviveram para análises, e em apenas nove a base foi alterada de G para A e em um, de G para C, sendo que em alguns foi observado o mosaicismo — quando apenas algumas células são reparadas. Em camundongos, a eficiência foi de 100%.
“Esse poderoso estudo lança luz na correção genética precisa de uma doença. Mas é preciso saber se a eficiência pode ser melhorada”, avaliou Helen Claire O’Neill, da Universidade College London. “São necessários mais trabalhos para avaliar a precisão dessa tecnologia de edição de bases para investigar a eficiência e a especificidade da técnica”, disse.
David Clancy, da Universidade Lancaster, elogiou o experimento, mas ponderou que o genoma completo não foi sequenciado para avaliar possíveis efeitos colaterais em outras partes do DNA, tornando impossível dizer a precisão.
Clancy ressaltou as questões éticas e legais envolvidas, que ainda precisam ser debatidas na sociedade antes de qualquer aplicação clínica. Para Darren Griffin, professor de genética da Universidade de Kent, “as implicações éticas da manipulação de genes em embriões precisam de um exame minucioso no qual a segurança seja de extrema preocupação”.

 

Edição de base é um avanço

A edição de base é um avanço em relação a outra forma de editar genes, a técnica Crispr, que já revoluciona a ciência. A Crispr quebra o DNA. Quando o corpo tenta consertar a quebra, ela desativa uma série de genes.
Aí está a oportunidade de inserir novas informações genéticas. A edição de base faz as próprias bases de DNA se transformarem umas nas outras. O professor David Liu, pioneiro da edição de base na Universidade de Harvard, descreveu o método como “cirurgia química”. Ele afirma que a técnica é mais eficiente e tem menos efeitos colaterais indesejados do que a Crispr.

 

Fonte: O Tempo||http://www.otempo.com.br/interessa/sa%C3%BAde-e-ci%C3%AAncia/cientistas-editam-embri%C3%A3o-humano-e-corrigem-doen%C3%A7a-1.1525587

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