Morador do bairro Santa Maria, na região Oeste de Belo Horizonte, o estudante Robson de Oliveira Silva, 21, faz a pé, três vezes por semana, um percurso de 4,5 km entre a casa e o curso de informática no bairro Novo Eldorado, em Contagem, na região metropolitana da capital. São 50 minutos, no mínimo, de uma caminhada que cansa e atrapalha na concentração para os estudos, e que foi adotada após o aumento das passagens no fim do mês em Contagem, inviabilizando, para a família dele, o custeio do transporte.

Silva é um dos retratos de um comportamento que vem sendo observado na população brasileira, pelo menos desde 2013. No ano passado, mais uma vez, houve queda do número de usuários de ônibus em todo o país. Por dia, 3,6 milhões de pessoas deixaram de ser transportadas nos coletivos, conforme levantamento divulgado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Os dados são baseados em nove capitais brasileiras – incluindo Belo Horizonte –, que concentram 37% da demanda desse serviço no Brasil.

“A tarifa é muito cara, e o meu pai é o único que trabalha em casa. Não tem como ele me pagar a passagem, e, para não deixar de fazer o curso, eu vou e volto a pé”, comentou o estudante, lembrando que só a tarifa consumiria cerca de R$ 97 ao mês da renda da família, que possui outros três membros.

O preço da passagem, contudo, é apenas um dos problemas apontados para a queda maior de usuários que tem sido verificada nos últimos anos. “A crise econômica do país e o desemprego são, certamente, fatores que interferem na dinâmica da mobilidade urbana das cidades. Mas temos que levar em conta também outras distorções do sistema de transporte urbano, como a falta de fontes de financiamento para a tarifa, hoje paga exclusivamente pelo usuário”, comentou Otávio Cunha, presidente da NTU.

A qualidade do serviço, segundo os usuários, também tem influenciado para a opção por novas alternativas de transporte. Moradora do bairro Pompeia, na região Leste da capital, a dentista Juliana Cristina, 46, vai de Uber da estação Santa Tereza do metrô até em casa. “São R$ 3 a mais todo dia, mas os ônibus daqui são muito velhos”, comentou.

Para Cunha, só um transporte de qualidade pode atrair mais passageiros. “É necessário investimento em programas de mobilidade e redução no valor dos insumos, como o óleo diesel e subsídios para a renovação dos coletivos”, defendeu.

 

 

Fonte: O Tempo||

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