A Universidade Federal de Minas Gerais fará, pela primeira vez, seleção pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em um único processo anual. Depois de dois anos promovendo entradas no início e meio do ano, a universidade volta a fazer lista única com a indicação de aprovados para o primeiro e segundo semestres. A mudança foi motivada pelo aumento de vagas ociosas resultantes da mobilidade dada pelo sistema e também dificuldades logísticas de dois processos. “Decidimos voltar ao formato tradicional, pela razão principal de que parece não haver muita vantagem adotar dois processos seletivos, ao lado da constatação de que ocorre uma certa desvantagem no que diz respeito à eficiência na ocupação das vagas”, disse o pró-reitor de graduação Ricardo Takahashi. A lista será divulgada em 18 de janeiro.

Com a adoção do Sisu como principal porta de entrada nas universidades públicas, uma mesma nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) permite ao candidato tentar vaga em cursos diferentes e até mesmo universidades públicas em todo o país. Um efeito colateral da mobilidade foi o aumento no número de vagas ociosas até mesmo em cursos disputados, como medicina. O pró-reitor de ensino substituto da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Benício José Almeida, considera que a mudança na UFMG resultará em impactos positivos para as universidades do interior. “Agora o estudante terá que escolher se quer entrar na UFMG no segundo semestre. Com isso, ele não vai segurar duas vagas em universidades públicas.” O estudante que não alcançava a nota de corte para ingressar no primeiro semestre na UFMG tentava a vaga em uma federal do interior. Mas como a nota era suficiente para ingressar no segundo semestre, ele abandonava o curso no interior. “Sabemos que uma das características positivas do Sisu é a facilidade que proporciona de acesso às vagas e de trocas de curso. O problema não é do aluno, mas acarreta dificuldades para a instituição, pois gera ociosidade de vagas”, diz Takahashi.

Com ingresso por uma única edição do Sisu, o pró-reitor destaca que os candidatos aprovados, tanto para a primeira como segunda entrada, serão chamados para se matricularem antes do início do primeiro semestre. Em caso de desistências, os estudantes com entrada no segundo semestre serão automaticamente convocados para iniciar os estudos. As vagas da segunda entrada que se abrem com esse processo serão ocupadas ao longo de todo o primeiro semestre. “Todas as vagas do primeiro semestre são ocupadas a tempo. Nossa previsão é que o processo de matrícula consiga preencher todas as vagas, pelo menos dos cursos que têm duas entradas anuais, a grande maioria”, analisa. Candidata a uma vaga no curso de medicina, Nathalia Lacerda Eller Costa, de 19 anos, aprovou a mudança. “É muito positiva. No curso de medicina, a UFMG é o carro-chefe no estado e no país. A entrada única reduzirá o número de vagas remanescentes no interior”, acredita.

A UFMG retorna à entrada única adotada desde 1970, quando os vestibulares começaram a ser organizados. As exceções foram os anos de 2014 e 2015, em que houve seleção de candidatos em duas edições anuais. Takahashi ressalta que, em 2014, a mudança foi motivada por uma questão operacional. “A UFMG passou a adotar o processo seletivo do Sisu exatamente naquele ano. Com isso, o início do processo de matrícula dos calouros deveria esperar a liberação do resultado do sistema, o que estava previsto para ocorrer bem depois do momento em que normalmente estaria disponível o resultado de nosso antigo vestibular.”

Com a mudança, espera-se que os estudantes façam escolhas mais conscientes. “A escolha do curso deve ser mais bem pensada. Só haverá oportunidade de correção de rumo em 2017, caso o estudante não tenha entrado no curso que ele realmente gostaria de fazer”, ressalta. Para ter certeza do curso a seguir, o pró-reitor sugere aos candidatos buscarem informações a partir de conversas com profissionais formados e com outros estudantes já matriculados. “Nunca é demais dizer que a escolha do curso de graduação é uma das decisões mais importantes da vida de uma pessoa e não deve ser tomada nem precipitadamente nem às cegas.”

 

MOBILIDADE Como o Estado de Minas mostrou, o Sisu aumentou a mobilidade dos estudantes internamente na UFMG, o que levou a reitoria a repensar como o processo de entrada poderia ser otimizado. “A reacomodação dos estudantes nos cursos aumentou muito após a adoção do Sisu como processo seletivo, dada a facilidade que existe para uma pessoa concorrer a uma vaga. Desde que a UFMG passou a adotar o Sisu como processo seletivo, cerca de 5% dos estudantes aprovados em cada semestre já eram estudantes matriculados em algum curso da universidade”, lembra. As vagas ociosas eram preenchidas por meio de transferência ou obtenção de novo título, mas Takahashi lembra que era um problema. “Mesmo havendo a reocupação da vaga, somente o fato de ela ter permanecido aberta durante vários meses significa uma ineficiência na ocupação da mesma.”

 

Cotas chegam a 50% das vagas

Depois de quatro anos de promulgada, a Lei das Cotas será implementada integralmente. Aprovada em agosto de 2012, a lei prevê a implementação gradual de vagas para estudantes que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas. No primeiro ano, 10% das vagas foram reservadas para as cotas, com aumento a cada ano até chegar a 50% delas neste ano. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), das 6.279 vagas, 3.142 serão destinadas aos candidatos das modalidades de vagas reservadas.

A entrada, por meio de cotas, teve início em 2013. Durante a implementação das cotas, houve um amplo debate sobre a seleção. De acordo com o pró-reitor Ricardo Takahashi, o Sisu elevou a competitividade, quadruplicando o número de candidaturas às vagas da UFMG. Os cursos que eram pouco concorridos, com média de dois candidatos por vaga, têm pelo menos 13 candidatos por vaga. “Mesmo os estudantes cotistas que entram nesses cursos tendem a ter um desempenho melhor do que os que não eram cotistas antes da aplicação da lei.

A UFMG implementa integralmente a lei das cotas com a comprovação de que o modelo não mudou a qualidade dos cursos. Estudos realizados pela Pró-reitoria de Graduação (Prograd) demonstraram que, em quase todos os cursos, mais da metade dos cotistas têm rendimento e desempenho acadêmico superior ao da média dos estudantes que não dependem da assistência estudantil.

De acordo com Takahashi, do ponto de vista acadêmico não se espera mudança no perfil do estudante em 2016. Mas a universidade acredita que deverá aumentar o número de estudantes que recorrem à assistência estudantil. “O que projetamos para 2016 é um número maior de alunos necessitando de assistência, o que vai provocar o crescimento da demanda sobre os recursos disponíveis para esse fim.” O pró-reitor de ensino da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Benício José Almeida, também considerou positiva a implementação da lei. Na universidade, ainda não foi realizado um levantamento sobre o desempenho dos cotistas.

 

Fique atento

A universidade voltará a preencher as vagas de seus cursos de graduação em uma única seleção, realizada em janeiro.

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

O resultado será divulgado em 8 de janeiro pelo Ministério da Educação.

Sistema de Seleção Unificada (Sisu)

Inscrições – de 11 a 14 de janeiro

Como fazer – As inscrições deverão ser efetuadas exclusivamente pela internet no endereço www.ufmg.br/sisu.

Requisitos – Para concorrer ao processo seletivo, o estudante deverá ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2015, e obtido nota acima de zero na redação.

Lista de aprovados – O resultado da chamada regular da primeira edição do Sisu em 2016 será divulgado no dia 18 de janeiro.

Vagas – 6.279, sendo 50% delas para estudantes que cursaram a escola pública.

 

Fonte: Márcia Maria Cruz/Estado de Minas||http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2016/01/05/internas_educacao,721830/ufmg-retoma-selecao-unica-de-candidatos.shtml

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