Um grupo internacional de cientistas analisou o papel da genética na definição de comportamentos sexuais e concluiu que não existe um “gene gay”, isto é, um único fator genético que defina se uma pessoa é homossexual, heterossexual ou bissexual.

O estudo será publicado nesta sexta-feira (30) na revista “Science”. A pesquisa diz que, assim como a maioria dos traços de personalidade humanos, também o comportamento sexual de cada pessoa resulta de uma mistura de fatores, genéticos e ambientais.

O artigo científico é uma combinação de grandes pesquisas realizadas em várias partes do mundo. No total, foram analisados 477.522 indivíduos e, portanto, milhões de marcadores genéticos (partes do DNA responsáveis por determinar características e atributos de uma pessoa).

Como foi feito o estudo

Em todas as sociedades humanas, de 2% a 10% dos indivíduos têm atração sexual por pessoas do mesmo sexo. Isso pode ocorrer de forma exclusiva, o que definiria uma pessoa como “homossexual”, ou de forma adicional a parceiros do sexo oposto, o que justifica o termo “bissexual”.

Estudos anteriores já demonstraram que a herança genética influencia, ao menos em parte, o comportamento sexual humano. Mas pouco se sabe sobre genes específicos que possam causar a homossexualidade ou a bissexualidade.

Entretanto, o estudo deste grupo internacional é o primeiro que olha para a questão em grande escala, comparando os comportamentos sexuais com as cargas genéticas de cada indivíduo, e os indivíduos entre si.

Os cientistas perguntaram aos participantes se eles “já tiveram relações sexuais com pessoas do mesmo sexo” e “por quem eles se sentem sexualmente atraídos”. Depois, compararam as respostas com a carga genética dos indivíduos, por meio do método de “Associação Genômica Ampla” (GWAS, na sigla em inglês).

Esse método identifica se indivíduos que têm um mesmo gene no seu DNA apresentam, entre si, também as mesmas características e comportamentos. Assim, é possível compreender se certos genes determinam certos comportamentos.

Entre os autores estão cientistas de 11 centros de pesquisa nos Estados Unidos, Austrália, Holanda, Reino Unido, Dinamarca e Suécia. Por meio desse consórcio internacional, os cientistas conseguiram coletar os dados de quase meio milhão de pessoas e compararam seus DNAs.

“Este não é o primeiro estudo que explora a genética dos comportamentos sexuais, mas os estudos anteriores eram pequenos e menos potentes”, explicou, em coletiva de imprensa na terça-feira (27), Andrea Ganna, do Hospital Geral de Massachusetts e do Broad Institute, em Boston, nos Estados Unidos.

O que descobriram

Em resumo, os pesquisadores descobriram que a orientação sexual de uma pessoa não depende apenas de seu DNA. Não é, necessariamente, algo que vem com a pessoa desde quando nasce.

Segundo os autores, os fatores genético ajudam a explicar cerca de um terço das diferenças ligadas ao comportamento sexual das pessoas. Mas fatores ambientais também têm grande influência sobre essas diferenças — e quando eles falam de “ambiente”, referem-se às experiências de vida, à cultura, localização geográfica, e à educação que cada pessoa recebe, por exemplo.

Portanto, eles afirmam que não existe um “gene gay”, de acordo com o estudo. Ou seja, não podemos afirmar que haja um único gene que determine se a pessoa vai ter comportamento homossexual, heterossexual ou bissexual.

A questão é bem mais complexa: a influência genética se soma às influências vividas por uma pessoa para formar suas características de personalidade e de comportamento. E isso inclui seu comportamento sexual.

Genes ligados à sexualidade

Pela primeira vez, os cientistas identificaram cinco marcadores genéticos que, segundo eles, certamente estão ligados ao comportamento sexual. Porém, apenas olhando para o DNA de uma pessoa, não é possível saber se ela terá um comportamento homo, hetero ou bissexual.

“Escaneamos todo o genoma humano e encontramos cinco localidades no genoma que estão claramente associados com as pessoas que afirmam ter comportamento sexual com o mesmo sexo”, explica Andrea Ganna.

“São variações comuns na população, mas têm pequeno efeito. Eles explicam menos de 1% do comportamento sexual de pessoas que se relacionam ou se sentem atraídas ao mesmo sexo, conforme a autodeclaração dos participante”, acrescentou Ganna.

Ele disse, ainda, que a influência da genética sobre o comportamento sexual é, em parte, diferente entre pessoas do sexo masculino e pessoas do sexo feminino.

Uma das descobertas mais interessantes, mas também muito difícil de explicar, segundo o pesquisador, é o fato de que eles não encontraram sequer uma única variante genética que fosse comum a todas as pessoas que têm o mesmo comportamento sexual.

Isto é, não existe um mesmo fator presente em todos os homossexuais, assim como não há para todos os heterossexuais e nem para todos os bissexuais.

Segundo Ganna, os autores concluem que os comportamentos sexuais dependem muito da sociedade em que as pessoas vivem, e também podem variar ao longo do tempo.

Mesmo que a genética tenha um papel importante em determinar atrações e comportamentos sexuais, “basicamente, é impossível prever a atividade sexual ou orientação de uma pessoa somente com base na genética”, declarou o pesquisador.

 

Fonte: G1 ||
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