Da Redação

Há dois meses a população sofre com a crise hídrica que assola o município. Desde agosto, a cidade está sob regime de racionamento e, apesar da medida de economia, muitos moradores reclamam do aumento nos valores da conta de água.

Apesar da falta de água para tratamento e distribuição, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) teve um considerável aumento no faturamento no mês de agosto. Na edição 1075, que circulou em 22 de setembro, o Últimas Notícias divulgou o faturamento da autarquia e alertou sobre o problema.

No mês de junho e julho, quando a captação de água estava normal, o efetivo recebido pela autarquia foi de R$912.783,26 e R$981.153,33 respectivamente. Já em agosto quando o Saae anunciou queda na captação de água, o efetivo recebido foi de R$1. 047.128,90.

O portal procurou verificar o valor recebido pelo Saae dos consumidores, no mês de setembro e, o número obtido junto à Câmara Municipal nos mostra que não houve uma diminuição sensível no total efetivamente recebido, se comparado ao mês anterior. Isto, mesmo sabendo que o fornecimento neste mês de setembro foi crítico.

A justificativa para esse aumento na conta de água é simples: cobrança de ar. Isto mesmo! O hidrômetro continua girando e marcando um gasto que não existe devido à passagem de ar. A solução para este problema seria a instalação de uma ventosa no hidrômetro. O aparelho inibe a passagem de ar, porém o Saae proibiu essa medida.

Em entrevista concedida ao Últimas Notícias no dia 21 de setembro, o diretor do Saae, José Pereira de Sousa (Capitão Sousa) explicou as razões pelas quais estava proibido no município o uso da ventosa (a entrevista foi gravada e divulgada no portal Últimas Notícias) e concluiu afirmando que, no caso de haver comprovação da cobrança indevida, a autarquia estudaria caso a caso e, se necessário, devolveria ao consumidor o que eventualmente estivesse sido cobrado a maior.

Porém, para os reclamantes junto ao Procon, a resposta da autarquia veio em direção oposta do que se esperava e do prometido. Não houve o reconhecimento de irregularidade na cobrança e nem mesmo a demonstração da mínima boa vontade para se chegar a um acordo. Um dos reclamantes recebeu do Procon a resposta negativa a seu pleito, juntando à mesma o ofício recebido do Saae, que em determinado trecho diz:

Conclui-se:

Diante desta resposta oficial pode-se concluir que os consumidores que se sentirem lesados, ainda que não recebam uma gota sequer do líquido, estão obrigados, como diz a autarquia, a arcarem com os custos da hipotética entrega de um mínimo de fornecimento, daquilo que não lhes é disponibilizado pois, a taxa mínima, é devida por todos e independe da prestação do serviço ou entrega da mercadoria (água).

Se não foi o Saae que ocasionou a descontinuidade eventual do fornecimento regular da água, a quem deverão os consumidores “lesados”, se dirigir?

Mudando de opinião

Apesar da proibição do uso e instalação de ventosas, na quinta-feira (19) o Departamento Municipal de Comunicação divulgou matéria informando que dentre os inúmeros serviços prestados pelo Saae, foi feita a instalação de 100 ventosas. A notícia é alvissareira e demonstra que realmente há o consenso de que este equipamento inibe a medição de ar, como se fosse água. Do contrário, por que instalá-lo?

A cobrança de “água fantasma” é muito mais comum do que se pensa. Em março de 2015, quando São Paulo enfrentou uma das maiores crises hídricas da história, o programa jornalístico da Rede Globo, Fantástico, tratou do assunto.

Com a ajuda de um engenheiro, o Fantástico testou os hidrômetros de alguns consumidores. A Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) admitiu o problema, mas disse que eram poucos os casos. Ainda segundo a Sabesp, o consumidor não necessariamente pagaria por tudo. A empresa disse que o ar que passava pelo hidrômetro também poderia voltar e fazer o aparelho girar ao contrário.

Aqui em Formiga, o diretor do Saae, foi taxativo ao afirmar que o retorno do ar pode contaminar a água: “Existe risco se a instalação predial estiver com algum problema. Nós não identificamos isso até o momento, nossos números de reclamações de qualidade de água continuam os mesmos”, afirmou.

Pesquisando:

Na tentativa de sanar dúvidas e melhor embasar a denúncia, o portal se vale de alguns artigos científicos assinados por autoridades do ramo e avalizados por Universidades e órgãos diversos, os quais comprovam a tese trazida a público e que a seguir são relacionados:

  1. S. L. Miranda, F. C. Tonial, J. C. Kuritiza e M. G. Marques, “Presença de Ar no Sistema de Abastecimento de Água: Influências no Funcionamento de Hidrômetros”. Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Bento Gonçalves, nov., 2013, p. 17-22. Disponível: https://goo.gl/uweKvX
  2. A. Garcia, “Análise do desempenho em campo de hidrômetros Qn 0,75 m³/h”, 39ª Assembleia Nacional da ASSAMAE, Gramado. Anais eletrônicos, Brasília: AS-SEMAE. 2009, 10p.
  3. T. Tsutiya, “Abastecimento de Água”. São Paulo: Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 3ª ed., 643 p.
  4. Brito e P. Silva Junior. “Brasil: Estado mais importante do país sofre crise hídrica”. Correio da Cidadania, jan., 2015. Disponível: https://goo.gl/rqLkPM.

FALVEY, H.T, “Air-water Flow in Hydraulic Structures.” USBR Eng. Monogra-phy, No. 41, Denver, Colorado, USA, 1980. Disponível: https://goo.gl/g1Do2L

  1. P. Lopes, M. Lara, M. Libânio, “Quantificação em Escala de Bancada do Volume de Ar em Ligações Prediais de Água”. Engenharia Sanitária Ambiental, v. 16, n. 4, nov., 2011, p. 343-352. doi: https://goo.gl/6hSi9y
  2. S. D. Souza, M. Polizer, M. A. C. Rondon, L. A. A. D. VAL, J. Gonda, “Avaliação da influência de um equipamento eliminador de ar na medição de consumo de água numa rede de distribuição”. 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Campo Grande. Anais Abes, 2005, p. 1-11. Disponível: https://goo.gl/5xVoPs
  3. C. T. Leal, J. C. Teixeira, “Avaliação da eficácia e da possibilidade da contaminação da água em eliminadores de ar fabricados em polipropileno, quando instalados em cavaletes de ligações de água potável – estudo de caso: Juiz de Fora – MG”. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, set., 2004, p. 187-192. Disponível: https://goo.gl/AnNqGb
  4. J. Mello, R. L. Farias, “O ar e sua influência na medição do consumo de água”. 23º 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. João Pessoa, 2001. Disponível: https://goo.gl/xvtXgM
  5. S. Scalize e W. C. A. Leite, “Variação da Micromedição do consumo de Água no Funcionamento Correto e Reversível do Hidrômetro”. Revista Eletrônica de En-genharia Civil, v. 6, n. 1, 2013. Disponível: https://goo.gl/QcaJfw
  6. S. L. Miranda, “Presença de ar no sistema de abastecimento de água: Influências na macro e micromedição”. TCC, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Por-to Alegre, 2011. Disponível: https://goo.gl/1FotSd

 

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