Leites possivelmente adulterados continuam nas prateleiras de supermercados e a população deve ficar atenta com possíveis sintomas. Soda cáustica e água oxigenada estão entre as substâncias usadas pelas cooperativas que alteram a composição da bebida.
A Polícia Federal e o Ministério Público de Minas Gerais iniciaram nesta segunda-feira (22) a Operação Ouro Branco, para combater a adulteração de leite em Uberaba e Passos.
Segundo o médico gastroenterologista Dan Waitzberg, diretor do Grupo de Nutrição Humana (Ganep), essas substâncias poderiam afetar o sistema gastrointestinal, causando irritações em órgãos do sistema digestivo, como o esôfago e o estômago. ?Em grandes concentrações a soda caústica causa queimação estomacal?, afirma o médico.
Ainda de acordo com ele, as mucosas do sistema gastrointestinal podem ficar inflamadas. Quem tem problemas de saúde como gastrite e esofagite deve ficar mais sensível à irritabilidade. ?Quem já sofreu uma úlcera, por exemplo, ficará mais suscetível às dores?, diz Waitzberg.
A população, no entanto, não deve ficar apavorada. ?Ainda não sabemos em que proporções estas substâncias foram diluídas. É provável que não tenha sido em grande concentração?, afirma o nutrólogo José Alves Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Segundo o nutrólogo, as pessoas que apresentarem sintomas como enjôos, vômitos e náuseas devem agendar uma consulta médica para verificar os motivos da indisposição.
Funcionários da Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) afirmaram, em depoimentos prestados à Polícia Federal anteontem, que a mistura com soda cáustica era adicionada ao leite longa vida integral havia mais de dois anos.
Funcionários da Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) afirmaram, em depoimentos prestados à Polícia Federal anteontem, que a mistura com soda cáustica era adicionada ao leite longa vida integral havia mais de dois anos.
Contradizendo a colocação dos médicos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou que os consumidores não precisam suspender o consumo de leite devido à denúncia de adulteração. Para a gerente-geral de alimentos do órgão, Denise Resende, a quantidade de produtos como soda cáustica e água oxigenada adicionada ao leite é pequena e não há risco de o produto provocar reações.

Com relação a problemas para a saúde, não temos preocupação. A preocupação maior é com a qualidade nutricional do leite, diz ela. O produto não vai causar dano nenhum para a saúde. Não vai causar diarréia na criança que consumir, afirma Denise. De acordo com ela, o problema é que produto não vai apresentar todas as proteínas e nutrientes que estavam previstos. O que não deixa de ser uma infração, afirma.
Ela explicou que o leite só seria prejudicial à saúde se tivesse grande quantidade de substâncias impróprias –o que não é o caso. Nós temos um monitoramento de qualidade de alimentos que é feito pelos Estados e municípios, e não identificamos nenhum problema grave que tenha acontecido com o leite até então, diz ela. Se o problema fosse grave, afirma Denise, a adulteração já teria sido percebida.
Segundo o delegado Ruiz, a rentabilidade da fraude, no caso da Copervale, estava na adição de água para dar volume ao leite. Ele afirmou que a adulteração permitia enganar o exame de crioscopia, aplicado para verificar se o leite contém água. Misturadas à água, substâncias como a soda cáustica geram um pH que altera os resultados do exame. A PF trabalha com o percentual de 10% de adulteração -em um litro de leite, 10% seriam formados pela mistura diluída em água.

O presidente da Leite Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Leite do Brasil), Jorge Rubez, disse que o valor do leite é determinado pela qualidade, e não pela quantidade. No caso da Copervale, se a mistura era de fato capaz de burlar a crioscopia, a qualidade do leite produzido era falseada.

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