No momento em que a pandemia atinge seu auge no país, com mais de 70 mil casos confirmados da Covid-19 por dia, a exaustão não afeta somente os profissionais que têm contato direto com os pacientes. Por conta da grande alta no número de exames, aqueles que atuam nos laboratórios de diagnósticos também estão exaustos. 

Plantões acrescidos ou horas extras e férias remanejadas fizeram parte dos últimos 12 meses para técnicos, bioquímicos, médicos patologistas e profissionais que realizam os exames. Ao longo dos meses, a tecnologia voltada para o diagnóstico da Covid evoluiu, mas não substituiu a importância de uma mão de obra especializada no processo. Quanto antes sai o resultado, maior é a eficiência no isolamento de pacientes positivados. 

E se engana quem acredita que os profissionais de laboratórios não têm contato com os pacientes. Fernanda Magalhães, biomédica e gerente técnico-operacional da empresa i9med, explica que parte da equipe é treinada para tirar dúvidas dos clientes sobre as opções de testes e sobre os resultados. “Nosso maior desafio é lidar com a ansiedade dos pacientes e com os momentos em que recebem resultados positivos. Eles pensam nas pessoas com quem tiveram contato nos últimos dias. A gente tem que ter jogo de cintura para acalmá-los”, conta. 

Fernanda explica que há uma grande pressão sobre os profissionais, e os resultados devem sair com rapidez. Mas a resiliência marca a rotina dos laboratórios: “É gratificante saber que participamos efetivamente do enfrentamento da Covid-19, colaborando com as pessoas e o atendimento nos hospitais”. 

A gerente de exames especializados do Hermes Pardini, Vanessa Oliveira, faz questão de humanizar todo o processo para que a equipe compreenda a importância de seu trabalho em cada resultado apresentado. “Sempre digo que, por trás de cada tubo, há histórias”, relata. “A pressão psicológica é grande, há muitos casos de urgência. Tem gente que precisa de um resultado por causa de um óbito. Também já tivemos casos de mulheres com suspeita de Covid que tiveram bebês e querem saber se poderão amamentar”, conta.

‘Área de inteligência na guerra’

O vice-presidente do Hermes Pardini, Alessandro Ferreira, faz uma analogia à guerra para explicar a importância dos laboratórios em um momento de crise sanitária sem precedentes no Brasil. “A medicina diagnóstica é a área de inteligência na guerra contra o vírus. São nossas informações que indicam onde está o inimigo, e, sem isso, a linha de frente não tem como atuar”, afirma. 

Ferreira lembra que os laboratórios têm profissionais na linha de frente: técnicos que fazem a coleta de material via exame RT-PCR. Para ele, este tem sido um dos piores momentos para os profissionais da área: houve um aumento superior a 30% no número de exames em relação a fevereiro. Além disso, cresceu a média de positividade dos resultados – em 2020, era de 20%; agora, 35%.

Afastamentos são realidade

Além da exaustão e da pressão por agilidade para a obtenção de resultados rápidos, as equipes dos laboratórios lidam ainda com os afastamentos. 

No Laboratório São Paulo, por exemplo, a Covid voltou a afetar alguns dos 170 funcionários. “Estamos voltando a ter funcionários contaminados. Mesmo com todos os controles internos da empresa, os trabalhadores acabam se contaminando porque andam de ônibus, vão almoçar, têm uma vida fora do trabalho”, conta Daniel Dias Ribeiro, médico patologista e diretor do Laboratório São Paulo. 

Para proteger os trabalhadores, o laboratório decidiu dispensar temporariamente os estagiários, já que eles não puderam ser vacinados contra o novo coronavírus. 
Todos os profissionais efetivados dos laboratórios diagnósticos foram vacinados em Belo Horizonte por serem considerados profissionais de linha de frente no combate à doença.

Ribeiro pontua que o estresse é diário na rotina do laboratório, que, em fevereiro, realizava cerca de 120 exames por dia, e, em março, passou a fazer 400. “A resposta rápida é nosso foco, os resultados devem ser liberados em poucas horas. E a qualidade do nosso trabalho é fundamental para conter a transmissão, porque, quanto mais rapidamente sai o resultado, mais acelerado é o processo de isolamento do infectado”, frisa. 

Fonte: O Tempo

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