Antes de estourar no fim dos anos 80, Adriana Calcanhoto estava acostumada a carregar seu violão por churrascarias de Porto Alegre e reinventar com delicadeza e bom senso qualquer música pedida pelo público ? de Chitãozinho e Xororó a Vinicius de Moraes. Mais recentemente, após ficar um ano e meio sem dedilhar nenhuma corda por causa de um cisto na mão já tratado, a compositora teve que reaprender a tocar o instrumento. Por isso, o DVD ?Olhos de Onda?, lançado agora, traz a compositora às origens e resgata o cenário banquinho, violão e Adriana ? formato que ela não repetia de forma absoluta no palco há 14 anos.
Ela até tentou forçar a barra, mas teve que se afastar do companheiro que conheceu ainda aos 6 anos, quando ganhou o primeiro Giannini de cordas de nylon da avó. ?Eu ligava para o meu médico todo dia perguntando se eu podia tocar violão e ele dizia: ?claro que não?. Foi difícil porque tenho uma relação forte com o violão e tive que me adaptar a outros instrumentos?, conta. O costume foi transformado em alternativa para os shows do disco ?Micróbio do Samba? (2011), em que a cantora troca o som de cordas pelo secador de cabelos, além de usar caixinha de fósforos e xícaras de chá enquanto estava lesionada.
Novas Águas
Influenciada por Fernando Pessoa, após dormir uma noite no quarto do poeta, em Lisboa, Adriana Calcanhoto também bebeu na fonte de Machado de Assis para assinar ?Olhos de Onda?, o novo DVD ? o título faz referência aos olhos oblíquos de ressaca de Capitu, de quem ela confessa ser ?fã incondicional pela forma sincera que a cabocla consegue confundir e enganar?.
Mas, a poesia não é apenas influência, e sim uma espécie de mantra na música de Adriana Calcanhoto. Durante todo o espetáculo, ela apoia o pé esquerdo sobre uma pilha de livros de poesia, entre eles algum exemplar do poeta inglês Thomas Eliot (?para não cansar a perna, melhor que seja com leveza poética?).

COMPATILHAR: