Se o desmatamento na Amazônia continuar no ritmo atual, a perda da floresta pode levar, até 2050, a um aumento médio da temperatura da região de 1,45°C, o que, além de afetar a biodiversidade local, poderá ter impactos econômicos e sociais, incluindo o aumento da ocorrência de algumas doenças infecciosas e da demanda por energia elétrica e água.

Além disso, haverá redução na produtividade de cultivos. O alerta está em um estudo publicado nesta quarta-feira, 20, na revista PLoS ONE por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio (Uerj), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

O grupo analisou o impacto já sentido da retirada da cobertura vegetal na reflexão da luz solar e na capacidade de evapotranspiração da floresta (perda de água do solo por evaporação e da planta por transpiração) sobre a temperatura do solo em regiões tropicais e o que pode ocorrer no futuro na Amazônia.

De acordo com o trabalho, o desmatamento já promoveu em áreas tropicais da Terra um aumento de 0,38°C entre 2000 e 2010. Mas esse valor é uma média para todas as regiões, considerando um desmatamento também médio para essas de 26% no período. A maioria das áreas analisadas (67%) sofreu menos de 20% de desmatamento. Onde a perda florestal foi mais intensa, o aquecimento observado também é maior.

“Quando olhamos áreas tropicais que sofreram taxas maiores de desmatamento, o aumento de temperatura foi muito maior. Por exemplo, em áreas que perderam 50% de sua cobertura florestal, o aumento médio foi de 1,08°C. Em áreas com 100% de desmatamento, o aumento pode chegar a quase 2°C. Isso provavelmente ocorreu em áreas ao longo do arco do desmatamento da Amazônia”, disse o ecólogo Jayme Prevedello, da Uerj – o primeiro autor do trabalho.

O pesquisador explica que esses valores de aquecimento são uma média entre as temperaturas diurna e noturna. “Se considerarmos apenas a temperatura durante o dia, os aumentos são ainda mais dramáticos. Na média, o aumento foi 0,87°C. Para locais com 50% de desmatamento, foi de 1,7°C, e para 100% de desmatamento, foi de 3°C em média, podendo chegar a 5,1°C”, afirma.

‘Dramático’

Os autores também mediram os impactos que podem ser sentidos entre 2010 e 2050 especificamente para a Amazônia, em um cenário com taxas de desmatamento em alta semelhantes às atuais e considerando que o Código Florestal seja cumprido. No primeiro cenário, a temperatura pode subir em média até 1,45°C.

“Este nível de aquecimento é dramático em áreas com alto nível de desmatamento e rivaliza com o aumento de temperatura pelas mudanças climáticas. Honestamente, fiquei surpreso com esses valores. Já sabíamos há muito tempo que nas margens da floresta, próximo de uma área desmatada, é muito mais quente, mas não sabíamos que esse nível de aquecimento penetrava em áreas tão grandes”, complementa Barry Sinervo, da Universidade da Califórnia.

Os resultados são consistentes com outros trabalhos que compararam áreas florestadas com pastagem e cultivos de soja. Um estudo de 2015de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do Centro de Pesquisa Woods Hole, em Mato Grosso, mostrou que, quando a floresta é convertida em soja, ocorre um aumento na temperatura da superfície de mais de 5°C.

 

Fonte: Hoje em Dia, por Estadão Conteúdo||https://www.hojeemdia.com.br/primeiro-plano/desmatamento-pode-elevar-temperatura-na-amaz%C3%B4nia-em-1-45-c-1.702317

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