Desemprego, ansiedade, tédio e estresse são alguns dos gatilhos provocados pela pandemia de Covid-19, e que levam muitas pessoas a apelar para o consumo de álcool como válvula de escape. No entanto, é preciso ter cuidado com esse hábito. O uso abusivo da substância traz consequências graves para a saúde.

Por isso, o aumento do consumo durante o isolamento social preocupa especialistas e acende um alerta no Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, lembrado nesta quinta-feira (18). 

“Passar mais tempo em casa pode aumentar o consumo de bebida, pois não há o constrangimento de uma exposição pública da pessoa alcoolizada”, aponta o psiquiatra Tasso Amós.

Porém, é necessário ter cuidado com o hábito, por mais que uma cerveja ou uma taça de vinho façam parte da rotina.

Ainda de acordo com o psiquiatra, depressão e ansiedade podem precipitar ou agravar o alcoolismo, assim como o desemprego, ambiente familiar tumultuado e a solidão.

Mas como saber se estou bebendo e passando dos limites? Como driblar o tédio e não beber em excesso? O psiquiatra Vinícius Corrêa da Silva Rocha tira as principais dúvidas sobre o tema. Confira:

1- Existe um consumo “seguro” para bebidas alcoólicas? Qual é o limite?

Não, infelizmente não há um limite seguro. O álcool é uma substância psicoativa que pode causar sintomas de dependência. Esses sintomas se desenvolvem quando nossos neurônios modificam sua estrutura de receptores para um novo ambiente em que a presença de álcool é uma constante. Ou seja, nosso cérebro se remodela e nossos neurônios passam a funcionar como se a presença do álcool fosse parte do nosso funcionamento normal.

2 – Quando o hábito de beber passa a oferecer riscos à saúde?

Se a gente entende que o álcool tem o poder de remodelar nosso cérebro, o hábito de beber sempre é um risco. Cada organismo reage de uma forma aos efeitos do álcool e existe uma tendência hereditária a ser mais vulnerável ou mais resistente a uma mesma dose da substância. De toda forma, todos nós nos tornamos vulneráveis a sofrer essa transformação a partir do momento em que beber se torna um hábito.

3- Como identificar se estou bebendo em excesso no isolamento?

Essas mudanças nos nossos neurônios se manifestam como sintomas comportamentais. Um desses sintomas é a tolerância, que corresponde à capacidade de consumir quantidades cada vez maiores de álcool sem perceber que se está intoxicado. Isso condiciona nosso corpo a entender que ele funciona normalmente com o uso regular da substância, e causa estranhamento quando o álcool não é consumido. Ou seja: se eu me sentia relaxado e calmo enquanto estava consumindo álcool, depois de um período de condicionamento me sinto “normal” quando bebo e passo a ficar nervoso e irritado quando não estou bebendo. Assim se instala um ciclo de comportamentos disfuncionais. Então, se eu começo a me sentir dessa forma durante a pandemia e estou bebendo com frequência, é bom ligar o sinal de alerta. 

4- O que fazer caso identifique que estou bebendo em excesso?

É muito importante procurar ajuda profissional capacitada. Faz parte das competências do profissional não só definir formas de tratar com medicamentos, mas entender as particularidades de cada situação e como isso interfere nas motivações para mudanças de hábitos. O profissional deve saber interagir sem julgamentos com uma pessoa que sofre e pode encontrar outras saídas mais funcionais e adaptadas às vontades do indivíduo do que o uso de álcool.

5- Quais são as dicas para driblar o tédio e não beber em excesso?

Em um período de pandemia, com as limitações impostas, têm se tornado cada vez mais frequentes os relatos de consumo nocivo de álcool. Grande parte dos pacientes relatam a mudança de hábitos como consequência de uma rotina que não permite atividades de lazer.

Fonte: Hoje em Dia

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