Será que é possível entrarmos em um estado de briga de rua generalizado? Desde criança, ouço dizer que o povo brasileiro é pacato e cordeiro, não como qualidade, mas como defeito. De fato, vi a derrubada da junta militar que governava o país sem o disparo de um tiro, ao menos dos opositores do sistema. Fez-se um movimento pela Anistia (Ampla, Geral e Irrestrita), Eleições Diretas (Já) e até o impedimento de um presidente eleito diretamente. Tudo no grito, sem violência.

Agora, com uma manifestação gigantesca nas ruas, realizada no último dia 13 de março, que poderia selar o fim de um governo corrupto e incompetente, vemos uma situação inimaginável, a claque da governanta chamando à violência, para o conflito de rua. Em 1992, havia unanimidade, hoje, são duas torcidas políticas, pró e contra o impedimento da governanta Dilma, não mais disputando quem é a maior, isso já foi definido.

A torcida composta de membros da CUT e MST é militante -que segue a liderança-, acredita que está em jogo o ganho social – o que quer que isso signifique-, segue seu líder mor, Lula, que sabe -é experiente em conflitos- que está conduzindo seus peões para um matadouro.

A torcida do “impeachment” também acredita estar salvando o Brasil da corrupção, da incompetência e de uma governanta que comete crimes de responsabilidade. Ambas torcidas estão com disposição para a agressão física. E o dia para isso acontecer está definido: o dia da votação do “impeachment”. E o local será em frente do Congresso Nacional. A Polícia monta separar as duas turbas, mas e quem separa a chegada e saída de tanta gente?

E por que chegamos a isso? O PT começou há muitos anos um discurso divisor, o “nós” contra o “eles”, um uso infame que políticos mal orientados usam com o objetivo de criar um inimigo comum para unir suas bases. Aparentemente ainda funciona, haja vista a quantidade e qualidade de gente que sai de sua vida privada para expor-se em um apoio impossível a um governo carcomido.

É até impressionante ver a incapacidade de pensar que tomou a “esquerda” brasileira. Seja a Dilma honesta, mas escolheu pessoas muito desonestas. É claro que ser honesta não isenta a governanta de culpa. Pelo contrário, escolher gente desonesta que rouba implacavelmente o Erário é tão culpável como se ela própria estivesse recebendo benesses do roubo… Só que ela foi beneficiada, conforme diversos colaboradores da justiça têm delatado, por exemplo, nas doações de campanha.

Pois é, se a Dilma não apelasse para tanta mentira deslavada e para as pedaladas fiscais, contábeis e financeiras, ela não seria eleita e essa bomba-relógio econômica seria do Aécio ou da Marina. Então, em 2018, Lula voltaria triunfante ao poder. Ou seja, perderiam somente os anéis; mas, agora, neste mar de esgoto, perderão todos, não só os anéis, mas os dedos, as mãos e braços e as pernas, inclusive os intelectuais e artistas que apostam suas credibilidades na pior seleção política que este país já viu.

Para agravar a situação, dois ministros do STF resolvem desqualificar o PMDB. Marco Aurélio vazou, sem querer, a decisão sobre o Temer. O Barroso também não sabia que a fala dele sobre o Temer estava irradiado para todo mundo.

Se o Lula e a Dilma não recuarem do discurso agressivo, sairão do poder não só com uma mancha de sujeira, mas com as vestes ensopadas de sangue inocente dos seus peões que não percebem que viraram bucha de canhão na disputa mesquinha de Lula pelo poder.

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