Celebrado neste domingo (4), o Dia Mundial do Câncer é organizado anualmente pela União Internacional de Controle do Câncer (UICC). 2018 marca o último ano da campanha com tema “Nós podemos. Eu posso”, que visa capacitar indivíduos e comunidades em todo o mundo para avançarem na luta contra o câncer.

Membro oficial da UICC no Brasil, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama ( Femama) promoverá ações para celebrar o dia em todo o país. A data também objetiva conscientizar sobre as milhões de pessoas que esbarram no acesso desigual à detecção, ao tratamento e aos serviços de cuidados.

Lutando pelos direitos das pacientes

Reforçando sua atuação na defesa dos direitos da mulher com câncer de mama, a Federação, por meio de suas ONGs, entregará, nesta segunda-feira (5), ofícios para as secretarias municipais e estaduais da Saúde, questionando a disponibilização do tratamento no SUS para pacientes com câncer de mama metastático. Após Consulta Pública realizada ano passado, o Ministério da Saúde aprovou a inclusão do tratamento no SUS e, a partir de 29 de janeiro, estas pacientes têm o direito a acesso a essa alternativa terapêutica no sistema público de saúde.

O tratamento já é ofertado desde 2012 no SUS, mas apenas para pacientes com câncer de mama inicial e localmente avançado, ou seja, as que apresentam metástases (tumores que surgem em outros órgãos além da mama) não tinham até então acesso ao tratamento gratuitamente, apesar de terem indicação médico para uso e resultados expressivos comprovados por pesquisas.

Discutindo políticas públicas no legislativo

Também nesta segunda, ONGs associadas da Femama convocarão deputados estaduais solicitando a realização de audiências públicas em seus estados, nas quais debaterão a adoção da notificação compulsória do câncer e a aprovação de projeto de lei que determina o prazo máximo de 30 dias para a realização de diagnóstico oncológico.

“O Dia Mundial do Câncer ajuda a incluir o câncer na pauta do governo, o que é extremamente importante para as instituições dedicadas à luta contra o câncer, como a Femama, sejam ouvidas. É uma oportunidade para aumentar o debate sobre o impacto do controle do câncer e melhorar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento para milhares de pacientes”, atesta a mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da Femama.

Ações pelo Brasil

A mobilização pelo Dia Mundial do Câncer também acontecerá por meio da iluminação de diversos monumentos ao redor do Brasil nas cores azul escuro e laranja, associadas à data. O Congresso Nacional, em Brasília/DF, a Ponte do Guaíba e os Estádios Beira-Rio e Arena do Grêmio, em Porto Alegre/RS, o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões/RS, e a Praça de Eventos de São João do Piauí (PI), são alguns exemplos.

Muitas instituições associadas à Femama realizam em suas regiões programações próprias para marcar a data, como uma corrida de visa promover a saúde em Fortaleza (CE), ações de conscientização na praça de São João do Piauí (PI), em Imbé (RS) e no restante do litoral norte gaúcho e em Curitiba (PR).

Sobre o Dia Mundial do Câncer

O dia 4 de fevereiro é marcado pela conscientização a respeito da doença que mata anualmente 8,8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Para reverter esse cenário, desde 2008, a União Internacional de Controle do Câncer (UICC) convoca campanhas globais de conscientização sobre o câncer cujo objetivo é, até 2020, alcançar uma redução do número de pacientes de câncer que perdem a vida por falta de informação e acesso a diagnóstico ou tratamento adequados.

Estimativa da doença no Brasil

O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) e o Ministério da Saúde (MS) estimam a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer no Brasil em 2018.

O número preciso da estimativa é de 582.590 casos novos de câncer: 282.450 em mulheres e 300.140 em homens. O estudo abrange o biênio 2018-2019 e as estimativas para o ano que vem são as mesmas de 2018. As estimativas do biênio 2018-2019 não podem ser comparadas às dos biênios anteriores, porque as bases de cálculo são permanentemente aperfeiçoadas.

O tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos para cada ano do biênio 2018-2019 será o de pele não melanoma, que é um tipo de tumor menos letal, com 165.580 casos novos. Depois de pele não melanoma, os dez tipos de câncer mais incidentes no Brasil serão próstata (68.220 casos novos por ano), mama feminina (59.700), cólon e reto (mais comumente denominado câncer de intestino) (36.360), pulmão (31.270), estômago (21.290), colo do útero (16.370), cavidade oral (14.700), sistema nervoso central (11.320), leucemias (10.800) e esôfago (10.790).

Entre as mulheres, as maiores incidências serão de cânceres de mama (59.700), intestino (18.980), colo do útero (16.370), pulmão (12.530), glândula tireoide (8.040), estômago (7.740), corpo do útero (6.600), ovário (6.150), sistema nervoso central (5.510) e leucemias (4.860).

Para os homens, os cânceres mais incidentes serão os de próstata (68.220), pulmão (18.740), intestino (17.380), estômago (13.540), cavidade oral (11.200), esôfago (8.240), bexiga (6.690), laringe (6.390), leucemias (5.940) e sistema nervoso central (5.810).

Próstata, mama feminina, intestino e pulmão

Os tipos de câncer mais incidentes no Brasil (excetuando-se pele não melanoma), próstata, mama feminina, intestino e pulmão, têm relação com as mudanças ocorridas no país, que motivaram a chamada transição epidemiológica. Em um século, o Brasil aumentou exponencialmente sua população, os brasileiros se mudaram das zonas rurais para os grandes centros urbanos, a população entrou em processo de envelhecimento (com o aumento da expectativa de vida e a queda na taxa de natalidade) e o problema da fome foi aos poucos substituído pelo da obesidade, entre outras mudanças. O câncer no Brasil, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste e parte do Centro-Oeste, assumiu um perfil muito parecido com o dos chamados países do primeiro mundo.

“Os cânceres de próstata e mama, que são os mais incidentes em homens e mulheres, estão associados a longevidade, fatores reprodutivos e hormonais, inatividade física, obesidade e uso de álcool. Há também uma minoria de casos relacionados à história de câncer na família,” aponta a médica epidemiologista Liz Almeida, chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA/MS.

“Sobre o câncer de pulmão, cujo principal fator é a exposição à fumaça do tabaco, conseguimos avançar com a forte redução na prevalência de fumantes, resultado do programa brasileiro de controle do tabagismo. Mas pulmão continua a figurar entre os cânceres mais incidentes e temos que intensificar a prevenção ao tabagismo, sobretudo entre os jovens. O tabaco continua liderando o ranking de fatores de risco, está associado a 16 tipos de câncer e responde por um quinto de todas as mortes por câncer no mundo,” complementa Liz Almeida.

A incidência do câncer de intestino está relacionada ao aumento no índice de brasileiros com peso corporal inadequado. De acordo com os inquéritos nacionais do IBGE, enquanto na década de 1970 em torno de 24% da população adulta apresentava excesso de peso corporal, nos anos de 2002-2003 esses valores passaram para aproximadamente 41% da população com mais de 20 anos. Dez anos depois, os valores subiram ainda mais, alcançando 56,9% da população.

“O câncer de intestino já é o segundo entre as mulheres, perdendo apenas para mama, e o terceiro entre os homens, ficando atrás de próstata e pulmão,” ressalta Liz Almeida. “A doença está associada a diversos fatores, como obesidade, consumo de carnes vermelhas e processadas, dieta pobre em fibras, inatividade física e uso de álcool e tabaco, além da presença de pólipos no cólon e reto, história familiar de câncer etc.”

Colo do útero

Em contraste com o padrão pós-transição epidemiológica, o Brasil continua a conviver com a incidência de cânceres decorrentes de infecções, que poderiam ser prevenidos. O exemplo mais marcante é o câncer do colo do útero, o mais incidente entre as mulheres na Região Norte e o segundo mais incidente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.

A infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV) é responsável por praticamente todos os casos de câncer do colo do útero. O HPV propaga-se por contato sexual. O vírus provoca uma lesão no colo do útero, que, se não tratada adequadamente, pode levar ao desenvolvimento do câncer.

A boa notícia é que o Ministério da Saúde oferece, desde 2014, a vacinação para meninas contra o vírus do HPV, agora ampliada para os meninos, o que poderá reduzir no futuro a incidência de cânceres associados a essa infecção. No curto e médio prazos, a medida mais efetiva para a prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero é a universalização do acesso ao exame de Papanicolaou, biópsia e tratamento.

 

Fonte: Femama e Inca ||

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