Em Itaúna, a escola particular Recanto do Espírito Santo divulgou para pais e alunos da instituição uma cartilha onde aponta que o arco-íris, unicórnios e a figura do argentino Che Guevara, são “símbolos que afrontam a família”. A denúncia do material disseminado na comunidade escolar foi feita ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que em nota ao g1, nesta terça-feira (18), disse que avalia abertura de procedimento investigatório sobre o fato. Veja imagens das cartilhas ao longo da reportagem.

O g1 fez contato com a unidade escolar e solicitou posicionamento sobre o assunto, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.

A escola atende alunos do ensino infantil ao 9º ano do ensino fundamental, com formação religiosa. A instituição é a mesma que, no ano passado, divulgou nas redes sociais que a mulher “se torna uma sedutora” quando expõe “partes do corpo que deveriam estar cobertas” e que, “o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida”. Na ocasião, a escola chegou a se desculpar pela postagem.

Cartilha

Desta vez, o assunto polêmico não foi publicado nas redes sociais, mas divulgado entre pais e alunos em uma cartilha que contempla orientações à comunidade escolar quanto às doutrinas da unidade e, diante do início do ano letivo, alerta para o uso de materiais escolares com os respectivos símbolos.

O comunicado 001/22 começa questionando sobre os desenhos nos materiais escolares, se são mesmo ingênuos e as pontuações são descritas para atentar aos pais sobre a escolha destes objetos. Veja a primeira parte da cartilha:

“Você já pensou que a escolha dos materiais escolares também faz parte da formação das crianças? Antes de escolher, faça a si mesmo algumas perguntas. Qual o significado desta estampa? O que ela significa para os meus filhos?” , aponta a cartilha.

“Não basta engolir que ‘está na moda’ ou ‘todo mundo tem’. A boa formação implica em renúncias, sendo diferente e autentico quando necessário”, prossegue a cartilha.

“Às vezes é mesmo doloroso ver um filho triste por não ter a mesma mochila, estojo, lancheira etc., que seu coleguinha tem. Mas dor e frustração fazem parte de uma boa educação e nesta hora, os pais têm importante papel de mostrar suas razões e defender seus valores”.

Segunda parte da cartilha

As principais ideologias antifamília têm feito de tudo para se instalar em nosso meio e utilizam, principalmente, os materiais infantis e com estampas que parecem ingênuas. O arco-íris que é um símbolo de aliança de Deus com o seu povo, foi raptado pela militância LGBT, que utiliza em suas bandeiras que têm atualmente, seis cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, anil e violeta”, pontua a segunda parte da cartilha.

Sobre o unicórnio a cartilha aponta:

“Sua origem é diversa, mas o perigo é o que ele representa atualmente, pois também é utilizado por personalidades para identificar alguém de ‘gênero não binário’.

A cartilha termina com a seguinte mensagem:

Você já deve ter ter entendido como é grave embarcar na moda sem questioná-la. E se são símbolos desconhecidos, procure saber o significado ou simplesmente os evite, e faça opção por aqueles que você tem certeza que representa seus valores”.

Outra polêmica

Essa não é a primeira vez que a Escola Recanto do Espírito Santo se envolve em temas polêmicos. No ano passado, a unidade divulgou nas redes sociais que a mulher “se torna uma sedutora” quando expõe “partes do corpo que deveriam estar cobertas” e que, “O pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida”. Na ocasião, a escola chegou a se desculpar pela postagem.

A postagem repercutiu nas redes sociais e foi apagada pela escola que, em seguida, fez uma publicação com pedido de desculpas tanto no Instagram quanto no Facebook. O colégio definiu a postagem como “indevida”, mas ressaltou que a escola “concorda com a modéstia no vestir”.

Mesmo com o pedido de desculpas, o g1 na ocasião entrou em contato com o Colégio Recanto do Espírito Santo a para saber se gostaria de se pronunciar, no entanto, as ligações não foram atendidas.

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, Cristiane Lara, informou ao g1 na época que tinha protocolado uma nota de repúdio pela publicação.

Postagem de 2021

A publicação original no stories do Instagram da escola, em 2021, continha um trecho do Guia Mariano de Modéstia, que trata sobre a Cruzada Mariana – movimento que, segundo o guia, “tem como finalidade promover a castidade e a modéstia por meio da imitação de Maria”.

O trecho publicado nas redes sociais da escola faz parte do capítulo II que tem como título “Vestes Imodéstias”:

“Quando a mulher decide expor partes do corpo que deveriam estar cobertas se torna uma sedutora, partilhando assim a culpa do homem. De fato, os Teólogos ensinam que o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida”, diz a publicação.

O texto replicado foi retirado de um trecho do guia que tem a pergunta: “A mulher é, então, considerada como algo mau e que deve ser evitado?”

Repercussão

A publicação repercutiu nas redes sociais e recebeu críticas de usuários no ano passado.

Com a repercussão, a escola tirou a publicação do ar e postou um pedido de desculpas com as hashtags “não ao estupro” e “a culpa nunca é da vítima”.

Repúdio

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres e integrante da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), advogada Cristiane Lara, disse na época que emitiria uma nota de repúdio.

Para a advogada, que também é membro da Coletiva Feminista Indomitas e da Comissão de Direitos Humanos da OAB Itaúna, a escola deve ensinar o respeito ao direito das mulheres.

“Repudiamos veementemente o conteúdo deste post e faremos uma nota de repúdio de toda sociedade civil de Itaúna onde colocaremos nossa insatisfação e absoluta intolerância a este tipo de comportamento retrogrado que coloca as mulheres como culpadas. Lembrando que a culpa nunca é da vítima”, concluiu.

Fonte: g1 Centro-Oeste

COMPATILHAR: