Um mistério ronda a 7ª Vara Federal Criminal do Rio, comandada pelo juiz Marcelo Bretas, onde tramitam os processos do braço fluminense da Lava Jato: o sumiço de duas pastas virtuais com arquivos sobre as operações do escândalo no Rio. O caso está sendo investigado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Os documentos fazem parte de ações antigas e em andamento.

O pedido para a apuração do sumiço dos arquivos foi feito pela vara para um órgão chamado Diretoria do Foro (Dirfo), que, por sua vez, encaminhou ao setor de Tecnologia do TRF-2, a quem caberá apontar se o que ocorreu foi um ataque cibernético ou se foi algum erro no sistema.

Reportagem do jornal “O Globo” apurou que o problema aconteceu há cerca de um mês e foi o primeiro do tipo na Vara, que conta com uma estrutura para evitar ataques de hackers e com varreduras para evitar grampos. Alguns documentos que estavam no sistema são sigilosos. Os arquivos foram recuperados logo depois porque havia backup.

A preocupação com segurança na Vara Criminal não se restringe à área de informática. O TRF-2 também aprovou há alguns meses escolta para Bretas depois que pessoas estiveram em busca de informações sobre a rotina dele na cantina do prédio onde fica o gabinete do magistrado. Desde então, o juiz tem sido acompanhado por seguranças.

A estrutura da 7ª Vara Federal Criminal do Rio tem sido melhorada para dar conta do trabalho com os processos da Lava Jato. A Vara recebeu funcionários cedidos por outros setores, praticamente dobrando o número de servidores no gabinete. Outra medida que ajuda a dar celeridade aos processos é a suspensão da distribuição de todas as ações que não sejam da Lava Jato para 7ª Vara. Em resumo, Bretas tem dedicação exclusiva à Lava-Jato – assim como Sergio Moro em Curitiba –, acumulando o trabalho com os processos que já tramitavam lá antes.

Na Vara Criminal do Rio de Janeiro, tramitam os casos relativos aos pagamentos de propina a agentes políticos do Estado, sendo o mais notório deles o ex-governador Sergio Cabral (PMDB) e a esposa dele, Adriana Ancelmo. É lá que tramitam 15 dos 16 processos da Lava Jato contra o peemedebista.

Também correm na 7ª Vara as ações penais em que ex-secretários da gestão Cabral, empresários como Eike Batista e Fernando Cavendish – acusados de pagar propina ao ex-governador – e ex-diretores da Eletronuclear são réus.

 Juízes repudiam ação de Cabral

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) repudiou, em manifestação pública feita nesta quarta-feira (25), “toda e qualquer tentativa de intimidação ou ameaça aos juízes federais no exercício das suas funções”. A principal entidade da classe se referiu às declarações do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), em interrogatório perante o juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio. Cabral sugeriu ter conhecimento detalhado da vida pessoal do magistrado e de sua família. E acusou Bretas de buscar “projeção pessoal”, submetendo-o a um “calvário”.

Bretas disse que a declaração poderia até ser subentendida como ameaça. Durante o interrogatório, o procurador Sérgio Pinel requereu a transferência de Cabral para um presídio federal de segurança máxima, e o pedido foi aceito por Bretas. A Ajufe ressaltou que “os próprios advogados do acusado reconheceram ter sido descabida a menção à família do juiz”.

Quem também se manifestou em defesa de Bretas foi o promotor de Justiça de São Paulo Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção. Ele divulgou o vídeo “Solidariedade total a Marcelo Bretas, desrespeitado por Sérgio Cabral”. “O que ocorreu é absolutamente inconcebível. (…) Saiba, Marcelo Bretas, que você não está só. Este ataque é a todos nós, e nós somos solidários a você”, disse o promotor no vídeo divulgado nas redes sociais.

Cárcere

Ao manter a decisão de Bretas de mandar Cabral para um presídio federal, o desembargador Abel Gomes, do TRF-2, advertiu para a “livre atuação no cárcere” do peemedebista.

 

 

Fonte: O Tempo ||

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