É claro que a forma estranha de se exercer a democracia neste país, visando apenas manter no poder os mesmos “grupelhos” de sempre, é uma anomalia que precisa ser combatida com firmeza. Só que esta firmeza se traduz em voto consciente e aí, convenhamos…

A forma vigente para a distribuição de verbas e cargos atrelada a partidos e aos interesses daqueles mesmos que há décadas se mantém no poder, formando castas familiares ou oligarquias centenárias (vide Sarneys, Maias, Calheiros, Cabrais, Neves, Andradas, Cardosos e tantos outros) é o que coloca os municípios e os estados de pires nas mãos; fazendo com que dependam da boa vontade dos caciques maiores que, via-de-regra, comandam a compra e venda de votos nos mais diversos escalões da administração pública tupiniquim.

E o pior é que esta nefasta prática, hoje mais que disseminada, contamina os três poderes da República nos mais diversos níveis como se tem comprovado a todo instante, através das delações e procedimentos investigatórios tornados públicos.

Deixando de lado a podridão que infelizmente se instalou lá em Brasília na cúpula do Executivo, Legislativo e no próprio Judiciário, analisemos aqui mesmo no município, as razões que levam, por exemplo, membros do Legislativo e do Executivo a se transformarem numa espécie de “cacheiros viajantes”, sempre de pires nas mãos, em busca de recursos e providências que, convenhamos, são resultantes da obtenção de recursos que, em última análise, pertencem a nós todos, os pagantes de impostos. Porém, nesta nossa “democracia de coalizão”, são estes controlados e distribuídos por alguns que se intitulam como donos do poder, e em nome da manutenção deste status, em favor deles próprios e de seus superiores hierárquicos – donos de partidos – controlam nomeações e a distribuição de recursos, país afora.

E aí, surgem as tais emendas, principal moeda mantenedora deste estado de coisas. Deputados estaduais, federais e senadores prometem, garantem, distribuem ou não, o quinhão daquilo que uma vez arrecadado deveria servir apenas para o atendimento das necessidades do povo e livre de qualquer vinculação ou obrigação de retribuir-lhes através dos votos aqueles que se perpetuam no poder.

Emenda solicitada, quase sempre é prometida. Em especial quando propagada nas bases como sendo uma “benesse concedida”.

O problema é que muitas vezes, ou melhor, quase sempre, entre a formalização desta promessa e a chegada efetiva do recurso aos cofres municipais, lá se vão meses ou até anos!

Independente de sua destinação: saúde, obras públicas, educação, atendimentos sociais. Mesmo que as benesses prometidas estejam vinculadas às políticas de Estado, elas por aqui muitas vezes chegam materializadas na entrega de veículos, equipamentos e até mesmo em forma de sementes ou de outros “mimos” como aqueles que foram recentemente distribuídos, de forma seletiva, aos nossos pequenos agricultores. Dos males, o menor! Melhor assim, pois se esta modalidade tupiniquim de “compra de votos antecipada” não ocorresse por aqui, estes mesmos recursos ou benesses, jamais teriam como destino esta nossa Formiga. Certamente chegariam a outros municípios que, às centenas, também se viram em busca da divisão do tal bolo e para tanto, se valem das mesmas fontes!

Isto é o que explica, ao menos em parte, o grande número de viagens que nossos edis, em especial alguns mais afeitos a esta forma de trabalho, se vêm obrigados a fazer, quase que semanalmente à capital mineira ou a Brasília. Afinal de contas, dizem eles, é lá e não aqui, que se encontra o poder, a chave dos cofres que abrigam os tais recursos. Esta forma de atuar é a única possibilidade que eles têm para ver atendidas, ainda que minimamente, as necessidades que afligem o município e que eles entendem ser capazes de socorrer.  Sem isto, sem tais interferências, fica difícil conseguir recursos para construção de escolas, de UBSs, de melhorias no pavimento e tantas outras, eles  garantem.

E pelo visto, é esta a prática vigente. Para comprovar, basta que verifiquemos a papelada que transita hoje entre esta cidade e as tais fontes, em especial as lá de Brasília.

 

COMPATILHAR: