Ainda que a marca popular romântica seja a estampa principal de Vander Lee, o compositor mineiro resolveu introduzir ao simplismo de suas baladas radiofônicas, toques de classe e sofisticação ? mudando inclusive a maneira de cantar. Essa pelo menos é a aura que norteia ?Loa? (Balaio/Radar Records), oitavo disco de inéditas da carreira do cantor belo-horizontino. Com show de lançamento marcado de sexta a domingo no Cine Theatro Brasil Vallourec, o disco faz um culto à serenidade, trazendo pitadas de música portuguesa e até diversos elementos de jazz.
O novo trabalho chega às lojas após o diversificado ?Sambarroco? (2012), em que Vander Lee canta valsa, choro, samba e até congado, em um pout-pourri particular selecionado para fechar um ciclo da carreira. ?Ali eu comecei a busca por uma nova estética com um disco mais rico de elementos. Agora ela começa a aparecer porque eu tenho me jogado para fora da zona de conforto. É onde me sinto mais confortável, na verdade?, brinca o cantor.
Em busca de conforto, Vander Lee também modificou a forma de cantar. Isso porque como as gravações aconteceram pacientemente entre julho e setembro de 2013, no Estúdio Verde, no Padre Eustáquio, ele teve tempo de regravar vários takes e perceber entonações e timbres diferentes de sua voz. ?Foi a primeira vez que eu fiquei no esquema de 8h às 18h dentro do estúdio. Como gravei várias vezes trechos das músicas, meu vocal também foi mudando, dei mais atenção à técnica do que à emoção?, avalia.
Sonoridade
?Loa?, escolhido a partir da definição de louvar a vida, é o disco mais limpo de Vander Lee, ainda que o álbum condense elementos sonoros sofisticados e distintos ? que ganham vida com a presença predominante de metais, órgão, piano elétrico e percussão. Por isso, a produção musical ficou a cargo de Robertinho Brant, inaugurando uma parceria com um dos membros do Clube da Esquina, que até então só existia fora do palco. ?O Chico Amaral indicou o Robertinho, que foi para quem eu mostrei as primeiras canções. Ele entendeu que eu tinha elementos sonoros distintos, mas possíveis de condensar de forma clean?, diz o cantor.
Assim, Vander Lee consegue apresentar o ?samba mineiro?, como ele define a dobradinha de piano e violão marcantes em ?Procissão De Um Homem Só? ? influenciada por pitadas jazzísticas, assim como boa parte do repertório. Outras diversidades harmônicas ficam por conta das aspirações de bossa-nova notadas em ?Sempre Cedo? e ?ABC?, e influências da música hispânica, com o violão de 7 cordas português marcando os versos de ?Saudade Do Infinito? ? uma das letras mais inspiradas do disco (?a solidão não deve usar bengala / verdade, me disse que o amor não segue escala?).
Aos 37 anos, Vander Lee finca os pés com firmeza no seleto campo de compositores de referência do país, ao transparecer a maturidade de um letrista regravado no passado por Maria Bethânia, Gal Costa e Elza Soares.

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