Em um dia comum, a aposentada Célia Pinto Machado, 71, acordou e sentiu um formigamento em um dos pés. Ela nunca iria imaginar que um sintoma tão simples era a indicação de um acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE) – grave doença que internou uma média de 56 pessoas por dia, de janeiro a junho, em hospitais da rede pública em Minas Gerais. Em Belo Horizonte, no ano passado, mais de quatro pessoas, em média, foram hospitalizadas por dia.
A aposentada passou por três AVCs há dez anos, todos com sintomas similares, como o movimento limitado de um lado do corpo. Estava um pouco lenta, mas, com a vida muito atribulada, achei que fosse cansaço, diz Célia, que trabalhava na área administrativa de um hospital. Como sofreu o terceiro AVC no ambiente de trabalho, ela logo foi socorrida e ficou internada por quatro dias. Hoje a aposentada garante que tem boa saúde.
Os AVCs sofridos por Célia foram do tipo isquêmico (mais de 80% dos casos), quando há obstrução da passagem do sangue pelo vaso. A outra forma é a hemorrágica, quando o vaso se rompe, levando ao sangramento intracraniano. Ambos afetam as funções neurológicas e ocorrem em todas as idades.
Segundo o neurologista Marco Túlio Tanure, especialista em doenças cerebrovasculares e membro da Sociedade Mineira de Neurologia, o socorro de emergência é fundamental para que o paciente possa se recuperar com menores sequelas. Ocorre uma lesão de uma parte do cérebro que controla determinada área. Quanto antes atendido, melhor o prognóstico, afirma.
Em cada caso, as medidas a serem tomadas são definidas após o exame de tomografia, que indica o tipo de AVC. Segundo o médico, quando é do tipo isquêmico, nas primeiras quatro horas após o paciente passar mal, pode ser feito o tratamento com trombolítico, medicamento que rompe o coágulo. Quando é hemorrágico, o paciente é acompanhado e, dependendo da gravidade, deve ser operado, como aconteceu com o técnico do Vasco, Ricardo Gomes, em 28 de agosto.
Nas duas situações, os médicos investigam as possível causas do AVC e, assim, determinam o processo de reabilitação, fisioterapia, fonoaudiologia e outros, se necessário. Trinta por cento dos pacientes que sofrem AVC vão morrer. Dos outros, 30% se recuperam sem sequela e 40% com algum tipo de sequela, alerta Tanure, lembrando que, entre os principais fatores de risco, estão a pressão alta, o tabagismo, a obesidade e a idade avançada.
Para o especialista, a prevenção é a melhor ferramenta. Não fumar, adotar uma dieta saudável, fazer exercícios físicos regularmente, diz. O neurologista Antônio Lúcio Teixeira, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra que as medidas também previnem as doenças do coração. O que muda é o peso que cada fator de risco tem para cada doença, comenta.
Os jovens devem ficar atentos à prevenção. Estão aumentando os fatores de risco entre os jovens, pois estão ficando mais obesos, sedentários, estressados, comem mal, não fazem exercícios, afirma Tanure. Para Teixeira, não é comum jovens terem AVC, mas ele pode ser provocado por fatores como o aneurisma (má-formação do vaso sanguíneo). O jovem pode ter essa hemorragia subaracnoidea (aneurisma) e outras doenças reumatológicas, cardíacas, exemplifica.

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