Em 2005, a família brasileira tinha 19,15% da renda comprometida com dívidas. Hoje, nove anos e muitas políticas de incentivo ao consumo depois, o nível de endividamento é de 43,99%. O percentual, medido pelo Banco Central, é o mais alto da história. E a maior parte do bolo é o crédito habitacional, que responde por pelo menos um terço do comprometimento total da renda. Sem ele, o nível de endividamento cai para 30,48%.
A cabeleireira Renata Silva Rocha tem mais de 50% do salário comprometido com prestações. A mais pesada é a do apartamento, que comprou com o noivo em um financiamento de 15 anos. Mesmo assim, ela já pensa em assumir um novo financiamento, dessa vez, para comprar um carro. Para isso, ela deve deixar de lado despesas como compra de roupa e lazer no fim de semana. ?Tenho que me reorganizar para fazer uma nova dívida?, diz a cabeleireira.
Para especialistas econômicos, deixar o brasileiro se endividar ainda mais é perigoso. O professor de economia do IBS da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Carlos Porto, lembra que, em 2005, o nível de endividamento do Brasil era muito baixo, comparado aos demais países. Agora, apesar do aumento, ele considera que ainda não é um patamar exagerado, mas também não pode aumentar mais.
?A ênfase do governo com políticas de redução dos juros e facilidade do crédito para financiar o consumo já teve o seu efeito e não pode continuar nesse caminho, senão a situação para pagar tudo isso vai ficar complicada?, afirma Porto.
O coordenador do curso de ciências econômicas da Newton Paiva, Leonardo Bastos, destaca que o aumento do endividamento está diretamente relacionado ao crescimento econômico.
?Com mais facilidade ao crédito, ficou mais fácil comprar. O problema é que o brasileiro ainda não tem cultura de crédito barato e literalmente mandou ver. Não foi exagero retirar IPI e baratear os juros para estimular o consumo, mas, para conter a inadimplência, o governo vai ter que lançar mão das políticas monetárias e não deixar que o brasileiro se endivide mais?.

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