Em meio ao alerta máximo no estado de São Paulo, Belo Horizonte confirmou nessa terça-feira (16) a primeira morte por febre amarela. Trata-se de um homem de 53 anos, que não era vacinado, tinha baixa imunidade e, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMSa), foi contaminado numa cidade da região metropolitana, caracterizando mais um caso importado da doença. Nova Lima também confirmou mais um óbito por febre amarela e decretou situação de emergência no município. Assim, sobe para pelo menos 13 o total de óbitos em Minas Gerais no período 2017/2018. Os centros de saúde de BH estarão abertos no sábado para vacinação contra a febre amarela. Em todo o país, são pelo menos 38 mortes pela enfermidade. Baixa cobertura vacinal na divisa de Minas Gerais com São Paulo eleva atenção na região.
O óbito de BH e o de Nova Lima, o quinto na cidade da região metropolitana, ainda não constam no último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES), divulgado na segunda-feira (15), que confirma um total de 11 mortes e 12 pessoas infectadas. O paciente morava no Barreiro e estava internado no Hospital Júlia Kubitschek, na mesma região. Ele morreu na quinta-feira da semana passada. Segundo fonte da secretaria municipal, o homem contraiu a doença num sítio em Brumadinho. A cidade vizinha teve dois casos confirmados de febre amarela, sendo que um paciente morreu (o primeiro óbito do período 2017/2018 em Minas). A pasta informou que as ações de contenção, como trabalho de zoonoses e intensificação da vacina, foram feitas logo depois que recebeu a notificação do caso suspeito, um dia antes da morte.

As medidas contemplaram vistorias para retirada de focos do mosquito Aedes aegypti (transmissor da doença e também de dengue, zika e chikungunya) em 520 imóveis perto da casa da vítima. Ainda na segunda foi encontrado um macaco morto no Buritis, bairro próximo ao Barreiro. Ainda não há confirmação se ele estava contaminado. De acordo com a pasta, quando são encontrados primatas mortos, sinal de circulação do vírus em determinada região, ou diante de algum caso suspeito de febre amarela humana, a área de zoonoses de cada regional faz um pente-fino num raio de 200 metros do local onde foi achado o animal, de forma a eliminar possíveis focos do Aedes, que em ambiente urbano pode transmitir a febre amarela.

O alerta também está ligado em todo o Estado. Isso porque 12 das 28 regionais de Saúde são apontadas pelo governo do estado como área de atenção: elas têm cobertura vacinal inferior a 80% e estão mais longe da meta de vacinação (95%). Cinco delas fazem divisa com o estado de São Paulo: Ituiutaba (73,1%), Passos (74,49%), Alfenas (75,51%), Varginha (74,6%) e Pouso Alegre, que tem a menor cobertura do estado (66,69%), de acordo com a SES.

Perigo

O último boletim da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo aponta 69 casos confirmados da doença e 21 óbitos. No período 2017/2018, foram confirmados 430 macacos com a doença em território paulista. Desde julho de 2016, ocorreram 2.491 óbitos ou adoecimentos de primatas, sendo 617 animais com diagnóstico positivo para a febre amarela, de acordo com as análises laboratoriais do Instituto Adolfo Lutz – 61,5% deles na região de Campinas. A área faz divisa com o Sul de Minas e inclui as cidades mineiras de Extrema e Gonçalves, onde foram encontrados macacos com mortes confirmadas pela doença (Veja mapa).

Em entrevista coletiva nessa terça, em Brasília, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Antônio Carlos Nardi, garantiu que não faltarão doses para imunização da população. “Temos vacina suficiente para toda a população brasileira caso seja necessário”, afirmou. De acordo com o ministério, neste ano, apenas em janeiro, foram repassados 8,8 milhões de doses da vacina a estados de todo o país. Ao longo de todo o ano passado, foram 45 milhões e, desde o início de 2017, são disponibilizadas doses extras às unidades da federação que registram casos suspeitos.

Além das 21 mortes em São Paulo, Rio de Janeiro confirmou três óbitos, Bahia um, e o Distrito Federal, um. Em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, as vacinas serão aplicadas em doses fracionadas para agilizar a vacinação, de acordo com o governo federal. Minas Gerais ficou de fora do pacote. De acordo com Antônio Nardi, o estado não foi incluído porque hoje tem “altíssimas coberturas vacinais”. Em todo o estado, 81,89% da população foi imunizada, o que significa 3,6 milhões de pessoas ainda desprotegidas.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou que mantém a recomendação de que, diante da ocorrência de casos suspeitos ou morte de primatas por febre amarela em determinada região ou município limítrofe à localidade, a intensificação vacinal deverá ser iniciada imediatamente. E deve ser feita prioritariamente nos domicílios do entorno dos casos suspeitos, sendo estendida por todo o município. É feita casa a casa, com verificação do cartão de vacina.

Após três casos suspeitos e cinco óbitos confirmados pelo município por febre amarela, a Prefeitura de Nova Lima decretou, nessa terça-feira, situação de emergência em saúde pública em decorrência da doença. Na cidade, as quatro localidades atingidas foram Honório Bicalho, Galo, Santa Rita e Cascalho. Mata do Engenho – próximo a Macacos – e Alto do Goia estão sob suspeita. No último fim de semana, Nova Lima fez campanha de vacinação.

OMS teme exportação de casos da doença

A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar todo o território de São Paulo como área de risco de febre amarela e recomendou que todos os estrangeiros que façam viagens à região estejam vacinados. A imunização deve ocorrer pelo menos dez dias antes da viagem. Há preocupação da OMS ainda com a exportação de casos para outros Estados e países do Cone Sul.

O temor da OMS é com o avanço da doença pela América do Sul. O governo em Buenos Aires já chegou a colocar em seu site oficial alertas sobre o risco de febre amarela para quem viajar este ano ao Brasil. “Recomenda-se especialmente a consulta a um médico para avaliar a necessidade de vacinação”, diz o site do governo argentino.

Na avaliação dos técnicos da OMS, surtos no passado mostraram que a doença pode chegar com certa rapidez a novas regiões. Dois fatores estariam pesando para a proliferação da doença: a falta de imunização e um clima propício em regiões antes poupadas pela febre amarela.

A decisão de incluir todo o Estado de São Paulo na classificação de risco atende a uma estratégia para forçar a vacinação e, assim, tentar criar uma espécie de cinturão para reduzir o ritmo de proliferação.

A nova classificação de São Paulo se soma a zonas de risco de contaminação no norte do Rio, sul da Bahia, além do Espírito Santo. Tradicionalmente, os Estados do Centro-Oeste e do Norte faziam parte da classificação de risco. “Desde dezembro de 2016, o Brasil está vivendo um aumento das atividades do vírus”, afirma o informe da entidade. Até junho de 2017, foram 1,6 mil casos em primatas em 21 Estados. Nesse período, houve 777 casos em humanos.

A OMS lembra que, em 9 de setembro “o governo brasileiro declarou que a temporada de atividade do vírus da febre amarela tinha acabado”. Mas a doença voltaria com força depois do inverno, com 358 casos registrados em animais. Em 8 de janeiro, 687 casos estavam sob investigação em animais de 17 Estados. Outros 92 relatos adicionais em humanos se encontram sob investigação em 15 Estados e no Distrito Federal.

(Foto: Arte EM)

 

Fonte: Estado de Minas ||

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